“O INFERNO SÃO OS OUTROS”
Por passar tantas noites de insônia tenho o amanhecer incrustado na alma e os meus dias se tornaram longos, como se não tivessem fim. É como se os ponteiros do relógio parassem no tempo para contemplar a eternidade de minhas angústias.
Já não tenho paz, vivo de inconstâncias e de lembranças doloridas, de verdades não vividas e de mentiras bem polidas, de vazios constantes e de falta de esperança, de incompreensão e de lapsos de memória que ofuscam meus pensamentos, e que me causam a sensação de abandono e de solidão que domina minha existência, tornando-me, perigosamente, instável.
Tenho medo de minhas ideias, que já não correspondem ao que um dia acreditei serem verdades absolutas, medo de não crer o suficiente nos valores em que alicercei minha vida, medo de deixar os meus dias passarem em vão, por seguir opiniões de outrem.
Perdi-me nos labirintos de uma existência vazia, no conflito de sentimentos controversos, nos meandros do egoísmo alheio, na prepotência de pessoas que não evoluíram, nos resquícios de mágoas sufocadas e nas cicatrizes que o tempo deixou em meu corpo, em meu espírito e em minha mente. Tenho visões distorcidas por alucinações ou uma lucidez concreta das realidades que me cercam? Já não sei e nem me importa.
Só tenho a certeza de que minha individualidade deve ser preservada e minha integridade não será maculada pela interferência de pessoas que não conhecem os recônditos de meu ser, nem os anseios de minha razão. O coração não mais me domina.
Vivo de racionalidades e de desvelamento de valores, depois que constatei a grande verdade sobre as relações humanas - o inferno são os outros - como disse Sartre. E não vou alimentar os demônios alheios nem arder na fogueira das vaidades que eles criaram para si e na qual tentam me jogar. Ou jogar com minha vida como se eu fosse uma marionete. Não sou manipulável!
Sou maleável, mas, totalmente, mutante e mutável. Sou amável, mas, inconscientemente, revoltada e vulnerável. Sou uma mistura explosiva de rebeldia e contestação.
Não desafie minha razão, nem brinque com minhas emoções. Isso pode se tornar nitroglicerina pura, com consequências imprevisíveis. Fique longe da explosão!
Cleusa Piovesan
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