O VAZIO DO ESQUECIMENTO
Existem pessoas que vão se tornando opacas, desbotam e, aos poucos, desaparecem de nossas vidas. Às vezes, fica uma sombra distante, mas, em outras, não sobra resquício de sua presença, dada sua insignificância.
A memória nos preserva de lembrarmos ou de sofremos por aquelas pessoas que não acrescentaram nada de útil à nossa existência ou de aquelas que nos decepcionaram, emocionalmente. E, se por acaso, vemos uma foto antiga ou a imagem da pessoa em um lugar qualquer, ou até mesmo se vemos a própria pessoa, é como se estivéssemos observando um estranho ou assistindo a um filme que conta uma história que não é nossa. E não acontece somente com pessoas com quem tivemos desavenças, pode ser qualquer pessoa, até as que eram bem próximas.
Difícil entender como as relações se fragmentam com os acontecimentos que nos envolvem em situações sérias ou banais. Difícil crer que temos a capacidade de deletar da lembrança parte de nossas vivências por culpa, ou por remorso, ou por vaidade, ou por desamor, e restar somente a indiferença. Difícil perceber que as emoções que nos envolveram com certas pessoas podem ser tão fugazes quanto o brilho de um relâmpago. Difícil olhar para o passado e não reconhecer quem fez parte dele, nem lembrar o som da voz ou do nome da pessoa, porque desapareceu na poeira do tempo.
Dizem que o tempo tudo leva e tudo apaga, mas não faz desaparecer o vazio de estar ciente de o quão insignificantes somos uns para os outros, como seres humanos. Nem mesmo os laços de sangue são capazes de unir as pessoas para sempre, e o amor familiar também desvanece sob a névoa do esquecimento.
Quanto de humanidade há, quando excluímos alguém de nossas vidas, quando apagamos da mente o que nos convém, quando isolamos os sentimentos que tínhamos por alguém?
Será que as dores que acumulamos nos tornam insensíveis? Ou seria apenas um estado de consciência da fragilidade que permeia as relações, desumanas, em que nos envolvemos?
Homem, esse ser estranho... que perdeu pesos, medidas, tamanhos, para equalizar sua vã existência.
Cleusa Piovesan
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