Nem toda criança quer crescer
O grande escritor, historiador e professor, Leandro Karnal, disse em seu livro Todos Contra Todos - O ódio nosso de cada dia, que “toda criança quer apenas crescer. Nenhuma criança acorda de manhã dizendo ‘que maravilha ser criança’. Você só ama a infância no momento em que é adulto.” No entanto, com todo respeito e admiração profunda e sincera por tudo o que ele escreve, eu venho, pesarosamente a discordar. Não. Eu não queria “crescer”, ou melhor, ser adulta, pois crescer dá a ideia de tamanho e se for por tamanho eu realmente não cresci. Será um desejo concedido?
Mas continuamos.
Recordo-me muito bem sendo criança pulando em árvores, correndo, brincando e apanhando (convenhamos, a única parte ruim), e que isso passava pela minha cabecinha, ou "cabeçona", pois sempre fui avantajada nesse aspecto. Sempre pensei que para comportar o meu grande emaranhado de neurônios precisava-se de um grande abrigo. Aposto que, neste momento, a Rainha Vermelha ficaria com inveja. Mas voltando, após divagações à la Alice, eu me recordo perfeitamente que pensava como era bom ser criança. Logo eu tinha um comparativo, eu observava a vida das minhas tias. Confesso, e já aproveito para pedir desculpas se por acaso vir a, de alguma forma, soar como arrogante, que vida mais sem graça: Trabalhar, namorar, falar sobre namorados, competir entre elas para ver quem tomava de quem (acreditem vi de perto isso, por isso, realmente, nunca fiz competição do tipo com outras meninas, o feminismo já pulsava fortemente em mim). Mas enfim, realmente, crescer em tamanho eu adoraria ter uns centímetros a mais para deixar a minha cabeça ainda mais imponente. No entanto, preciso me contentar com meus 1, 52 cm. (faço questão de dizer esses 2 centímetros, pois não sou uma pessoa de 1 metro e meio). Ora, questão de orgulho!
Todavia, eu sabia que não tinha como parar o tempo e ser criança para sempre, mas eu pedi muito para que o tempo demorasse fazer com que a vida adulta chegasse. Só que também não se tem controle sobre isso. O Tempo é soberano e anda da maneira que lhe convêm. E passou rápido, como passou.
Será que quando você não quer algo, o Universo te concede exatamente isso? Recordo-me de várias meninas torcendo para chegar aos 15 anos. De verdade, eu queria que existisse eternidade antes de chegar aos 15 anos, mas confesso que nem lembro como foi. Passou na velocidade de um trem-bala.
E aquilo que não pode se remediar, remediado está.
Não posso ser criança para a vida inteira, assim como não serei jovem e nem velha, uma hora há o fim da linha. O que se precisa, que soe como um conselho para mim mesma, é viver o hoje. E então posso concluir que, é por isso que a minha cabecinha é grande, para que eu possa criar compartimentos para abrigar a criança, a jovem e ainda o espaço a ser preenchido pela velha. Que a separação por setores faça apenas referência à idade do corpo, mas que a essência da minha mente não se prenda a uma idade, e sim ao desafio de reinventar-se. Constantemente. Que as referidas fases sirvam apenas como uma identificação de salas, e que eu possa permear por entre elas sem uma frequência fixa ou qualquer cronograma linear. Que eu possa alternar da maneira que me agradar. E acima de tudo, que prevaleça sempre o discernimento para compreender tudo aquilo que for possível, e aquilo que não for possível, que a minha ignorância não me cegue, que vire um ponto de interrogação, mas não pré-conceitos inflados de preconceitos. Eu não terei opinião para tudo, nem há razão para tal, mas eu posso forçar as minhas orelhas a ouvir e a boca a fechar antes de pronunciar qualquer fio de desconhecimento, desentendimento e ignorância.
E falando em orelhas... as minhas acompanham a exuberância da cabeça. Mas é assunto, para quem sabe e que o Universo assim não queira, outro momento.