Adeus às ilusões mas não à utopia
SEMPRE fui um dissidente. Faz parte da minha natureza. Sou dissidente mesmo. Detesto a unanimidade. Nelson Rodrigues tinha razão quando disse: - Toda unanimidade é burra. BINGO.
Não vou negar que nutri muitas esperanças com os governos da esquerda (esquerda?), mas como Frei Betto e outros logo me desapontei e divergi porque parte da esquerda ficou fascinada pelo ´podere foi com muita sede ao pote. Em outras palavras: grande parte jogou no lixo suas bandeiras de luta, e os que questionavam essa mudanças de rumos, eram chamados de pequenos burgueses e justificavam absurdos cometidos como recursos não contabilizados. Escrevi sobre isso nos jornais de Pesqueira e Arcoverde. Bem, divergi, mas não virei a casaca, não aderi à direita. Sou dissidente mas não vira-casaca.
Admito que demorou um pouco para minha ficha cair. Mas caiu. Dei adeus às ilusões, mas continuei fiel a minha utopia, acreditando que é possível se construir uma sociedade justa e igualitária, sem humilhados e ofendidos, sem explorados e sem exploradores.
É nisso que penso todo santo dia. E quando dá meio dia, cansado de tanto divagar, levanto da cadeira de balanço, vou à cozinha tomo uma lapada de cachaça de cabeça, derramando a porção do santo, faço acaretinha de praxe, degusto um torresminho, e volto, só almoço duas horas da tarde. Na volta sempre olho para um velho poster amarelecido na parede que contém um poema de Thiago de Mello, leio um verso dele, "Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar", meus olhos marejam. Ele relembra minha utopia. epois sento na cadeira e dou um cochilo, àss vezes até sonho com um país mais justo. Inté..