38 graus
Em dias quentes, a sopa de letras borbulham no caldeirão da paciência, é uma linha tênue entre a razão e a emoção. A temperatura aumenta a cada H salivado; desse jeito torna-se delicado desarmar a bomba-relógio. Qualquer movimento em falso, os estilhaços da paz vão pelos ares. Entretanto, em dias quentes, também é sinal de praia; e surfar em ondas de poesia faz o tempo bom. Não em prancha de amor de gaveta, com poeira de aparência e cheiro de fingimento. Que me perdoe os Santos e os anjos celestiais, não vou nadar nas palavras de paraíso, mas aproveitarei o termômetro, que marca 38 graus, para refrescar o pensamento. Em pleno verão, aquele calorzão, no Porto da Barra, e a água de côco, que é para hidratar a língua. Caldo de sururu, castanha de caju e amendoim; acarajé com vatapá, camarão, pimenta e caruru; e uma mariscada porreta para finalizar o dia. Entre a maré vazante e cheia, mergulhar no azul piscina, saldar a rainha do mar e sair com cabeça de gelo, fará toda diferença. A entidade não faz milagres, não muda identidade e nem gosta de sopa. E para não perder nenhum detalhe, o pôr do sol é mais uma distração do dia; mirar o horizonte e observar o sol se ocultando, assim como o sorriso.