SANTOS, 27 DE JULHO DE 1970

SANTOS, 27 DE JULHO DE 1970

Eu estava na sala de espera da Clínica Luso Brasileira de Santos, na Avenida Ana Costa. Lucia já estava no centro cirúrgico, sendo preparada para sua segunda cesariana. Ainda não se usava ultrassom em medicina para detectar se a gravidez seguia seu curso normal e, para satisfazer a curiosidade dos pais, qual o sexo do bebê. Então, todo o parto era aguardado com muita expectativa e ansiedade pela família. As comadres tinham várias “técnicas” de como acertar se era menino ou menina o ser humano que nasceria. Se a barriga fosse muito baixa seria menino, se fosse pontuda seria menina, se a mãe tivesse muita azia seria um bebê cabeludo, se não satisfizessem os desejos da mãe o bebê nasceria com alguma marca referente ao desejo não atendido. Existiam muitas lendas e causos de nascituros com marcas da cor de barro, ou em forma de anzol porque não teriam dado peixe para a mãe, e muitas outras histórias sobre criança que nasciam com manchas, verrugas, com ou sem cabelo, a falta de leite da mãe era causada porque a mãe não tomara malzbier, uma cerveja preta de baixa fermentação. E outras, muitas outras crendices. Eu pedira ao médico assistir ao parto. Após perguntar se eu não ficaria impressionado, afirmei que não. Ele autorizou. A enfermeira me chamou, fui a uma antessala do Centro Cirúrgico, onde fiquei paramentado com roupas apropriadas: sapatos de pano, avental, gorro, luvas cirúrgicas, máscara. A moça me orientou que me posicionasse em frente a uma porta com um pequeno visor de vidro. Assisti a todo o procedimento da cesariana, com apreensão e pedindo a Deus que Ele fizesse com que o parto fosse feito com sucesso. Após meia hora, um ser humano iniciava sua vida. Confesso que aqueles segundos que o médico gastou para cortar o cordão umbilical, segurar o recém-nascido de cabeça para baixo e aplicar um leve tapa no bumbum e obter como resposta um forte choro, me fizeram ficar estático e torcendo: “Chora nenê, chora!”, pensei. Ato contínuo o cirurgião examinou e, olhando em minha direção através do vidro, informou: “-É uma menina!”. Hoje, há exatos cinqüenta anos atrás, posso dizer que foram instantes abençoados em que pude iniciar a doce missão de ser seu pai, Paola Miorim. Mais do que filha, você se tornou motivo de orgulho para mim e referência como mulher, mãe exemplar, uma pessoa apaixonada por seres humanos. Parabéns, parabéns, mil vezes parabéns. Amo-te, minha filha!

Paulo Miorim 27/07/2020.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 27/07/2020
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