Apenas reflexos de borrões
E mais um dia ela vai ao encontro de si...
Na sala reluzente, uma cadeira, uma mesinha para tornar o ambiente mais familiar, um tic tac e o espelho.
Tudo deveria ser refletido em apenas uma hora…
O espelho, em parte refletia a sua imagem e em parte era apenas o tracejado da madeira bruta que compunha a moldura.
O reflexo, em parte eram apenas os borrões que distorciam a imagem dela.
Mas parecia que quanto mais os seus olhos adentravam o espelho , mais os borrões se dissipavam e mais a imagem evidenciava-se (29 minutos parecem terem congelados).
Em alguns momentos, de quão compenetrada que ela estava em direção àqueles borrões, a atenção se desfazia do refletir e as pupilas rejeitavam fixar naquela direção.
E então, em meio ao silêncio estridente, restava apenas o tic tac… Já se foram 47 minutos (ou ainda).
Entre idas e vindas em direção ao tic tac e o espelho (agora 53 minutos), ela volta a compenetrar aqueles borrões que ainda desconfiguram o reflexo…
Percebe que ainda havia muito para refletir, mas muito já foi refletido.
E então 58 minutos (mas já!?)...
O que descobre? Um dos borrões era apenas uma mancha de açaí na camiseta amarela, que fez no caminho dali.