VIAJANDO DE CAMINHÃO

No ano de 1978 resolvera visitar um amigo sacerdote na capital mineira, porém estava ansioso para fazer uma aventura, daquelas de um jovem sonhador nas suas vinte primaveras. Naquela época trabalhava numa empresa concessionária de caminhões, lógico que nossos clientes eram eminentemente caminhoneiros ou empresas proprietárias de tais veículos. Depois de conversações com meu amigo através de cartas, pois naquela época não existiam fax, facebook, WhatsApp, quando muito um telefone ou telex que custava muito caro uma ligação. A forma mais eficaz para nos corresponder era mesmo a carta, desta forma acertamos que nas férias de julho iria visitá-lo, finalmente conheceria a famosa BH.

Contatei um cliente da cidade de Canelinha que semanalmente transportava pisos cerâmicos para o Estado de Mingas Gerais, na possibilidade de conseguir uma carona num de seus caminhões que faziam aquela rota. Aceitaram meu pedido. No dia marcado tomei um buzão da Auto Viação Catarinense rumo a Tijucas para pegar minha carona próximo a ponte. Eram dezesseis horas quando ouvi uma buzinada a me chamar, em três passos atravessei a BR 101 tamanha era minha euforia. Me apresentei ao senhor Geraldo, este era o nome do motorista, embarquei na possante carreta Scania-Vabis, ano 1975, mais conhecida como Jacaré rumando para o meu destino.

Para um jovem que sua viajem mais longa houvera sido Itajaí, me sentia no céu. A princípio o destino da entrega seria em Juiz de Fora, de lá teria de me virar, porém a sorte conspirou a meu favor, pois chegando à cidade surgira uma carga para pegar em BH. Pensei: Deus é catarina e manezinho. Toda a viagem fora uma aventura, pegamos muito sol, muita chuva, o que, para minha inexperiência era surreal, alguns quilômetros chuva torrencial, mais adiante sol escaldante.

Chegando em BH nos despedimos, agradeci a carona prometendo quando retornasse entrariamos em contato. Numa lanchonete comprei algumas fichas telefônicas TELEMIG a fim de ligar para que meu amigo me desse as instruções de como chegar em Pampulha, meu destino. Contato feito, tomei o ônibus rumando para o local. Fora bem recebido por todos naquele Seminário onde meu amigo na época era diretor. O resto do dia fizemos um pequeno tour pela redondeza. Visitamos o Estádio Independência, hoje Arena Independência, pois meu amigo era um fanático torcedor do América Mineiro, o Mineirão, o Lago da Pampulha, voltamos no final da tarde para o jantar. Naquela época eu era muito ligado ao futebol e sabendo disto, meu amigo pergunta se desejaria assistir um jogo no Mineirão pelo campeonato Brasileiro, seria a partida entre Cruzeiro e Vitória da Bahia. Aceitei imediatamente contando que iríamos nós dois e mais alguns seminaristas, a alegria foi-se quando comunicou seu compromisso na comunidade, porém quando chegasse na bilheteria falasse que era do Seminário assim minha entrada seria franqueada. Meio desconfiado segui suas orientações, entrei no estádio, assisti o jogo, ou quase assisti, pois quando percebi alguém batendo no meu ombro falando que o jogo terminara e as luzes do estádio estavam se apagando. O cansaço da viagem não permitira assistir toda a partida, acabei cochilando na cadeira para a minha decepção.

Passava das vinte e três horas, quando saí do Mineirão rumo ao Seminário Dom Luiz Orione. Seguindo pelo caminho, percebi que estava só naquele local desconhecido, a maioria das casas com suas luzes apagadas, latidos de cães por todas as partes, me senti inseguro. Ao chegar no meu destino os portões estavam trancados, poucas luzes acesas, não tinha como entrar em contato com meu amigo, me imaginei dormindo na rua. Após algumas batidas de palmas e bater no portão, uma boa alma acende a luz de um quarto, abre a janela me reconhecendo, logo vem ao meu socorro. Comenta que meu amigo não chegara de seu compromisso e não sabiam de minha ida ao estádio. No dia seguinte no café da manhã meu amigo pede desculpa pelo imprevisto pois esquecera de avisar aos demais de que eu iria assistir ao jogo, claro que desculpei, mesmo porque eu era um “intruso”, não podia alterar a rotina daquela casa, e sim me adaptar. Foi o assunto do dia para todos que residiam naquele local, tornou-se divertido tal experiência em terras mineiras.

Naquela semana que ficara hospedado passeei bastante, conheci a cidade de Ouro Preto me encantando com ela. O único inconveniente era estar só, pois devido seus compromissos paroquiais e comunitários, meu amigo não podia me acompanhar por isto me passava as instruções de como chegar em tal lugar e lá eu ia todo feliz de estar desbravando locais tão distante da minha terra natal. No caminho para Ouro Preto conheci uma turma de jovens, assim como eu, catarinas de Blumenau que estavam “peregrinando” pelo Brasil afora. Conversamos alguns momentos, trocamos informações, porém cada qual seguiram seus objetivos e eu conhecendo a linda Ouro Preto de uma forma solitária, mas muito proveitosa. Final do dia retornei a BH feliz da vida por conhecer a antiga Vila Rica, terra dos inconfidentes.

Finda minha estadia em terras mineiras, me despedi do meu amigo padre José Geraldo Dias e das demais novas amizades que cultivara naqueles longínquos dias que por muito tempo continuamos a nos contatar através de cartas, cartões postais e grandes lembranças que ficaram em minha memória. Na rodoviária de BH tomei um ônibus rumo à Curitiba, a fim de visitar parentes residentes naquela também, linda cidade do Paraná.

Bem, outro dia conto minha história em terras paranaenses...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 22/07/20

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 27/07/2020
Código do texto: T7018108
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