Quando mudei para os EUA, eu não podia trabalhar porque somente meu marido tinha o tal Green Card. Eu só pude tirar a identificação do "Social Security" como eles chamam aqui, que todos tem que ter, um cartao de identificação social, provando que você mora nos EUA.
Durante o tempo que moramos em Detroit, MI (4 anos) eu não trabalhei, mas tinha uma vontade enorme de novamente trabalhar. Afinal, no Brasil trabalhei minha vida toda. Mas ao mesmo tempo eu tinha uma tremenda insegurança se eu seria capaz de trabalhar nos EUA.

Quando a gente vem morar aqui, se sente tão pequena em relação a esse monstruoso mundo! Tudo aqui eh tão diferente, moderno, fácil, programado.
Lembro que nos primeiros meses aqui eu pensava como nós brasileiros sofremos com tudo. Em filas de banco, para conseguir documentos, fila de supermercado, parece tudo tão sofrido no Brasil. Estou aqui há 30 anos e nunca tive um problema de pegar longas filas. (digo isso baseada no  tempo que morei no Brasil, nao sei se agora seria a mesma coisa). Nao tive problema algum de conseguir qualquer documento. Tudo é certinho, dentro dos conformes.
 
Sei que no Brasil também há coisas mais modernas, como o Correio por exemplo. Há um ano atras quando fui para o Brasil, fui colocar um pacote no correio, e achei tudo tão moderno, mais ate moderno do que o daqui, pois basicamente fazemos tudo sozinhos. Alem do que fiquei muito impressionada com o "Poupa Tempo" que resolve qualquer problema de documentacao de modo facil e eficiente (aqui nao temos isso!).

Enquanto estávamos em Detroit, 4 anos, eu não trabalhei.
A única coisa que fiz foi ser baby-sitter, na casa de uma enfermeira que tinha três filhos. Eu levava a Patrícia, então tomava conta de 4. Adorava tudo que eu fazia Cozinhava e  cuidava deles como se fossem meus.
Então meu marido foi promovido e transferido, e viemos morar em Cincinnati, Ohio. Deu-me então aquela vontade enorme de trabalhar. Deveria existir alguma coisa que eu pudesse fazer, mesmo com minhas limitações no Inglês.
 
Em primeiro lugar, tirei o Green Card, o que me abriu portas. Comecei a escrever um Curriculum longo, o que meu marido cortou pela metade, colocando somente o principal. Ai percebi se eu deixasse tudo aquilo, pensariam que eu teria uns 150 anos (rs)!
Parti para as Agencias Temporárias. É o modo mais fácil de se entrar no trabalho.
A primeira quase desisti. Eles me deram um teste comprido, com Inglês e Matemática. Olhei aquele teste de Matemática e não tive a menor ideia de como solucionar aqueles probleminhas. E ai a moca veio com uma calculadora, que mais parecia um pequeno computador: "Ah esqueci, você pode usar a calculadora nos testes". Como se isso fosse a solução! No momento me deu um desanimo (mas apenas um desânimo de 1 minuto - eh o máximo que demora meus desânimos) e tentei solucionar. Nesse teste, definitivamente não passei. Mas não desisti. 

Ate que um dia uma das Agencias me ligou: "Olha, temos um trabalho para você! Numa  Companhia  Financeira! Eles tem um projeto que vai durar duas semanas. Quer tentar?" Pedi para ela esperar liguei para meu marido e perguntei: "O que você acha?" E ele sem pestanejar: "Acho que voce nem deveria pensar. Vá!"

Na Agencia falaram que eu tinha que ir muito bem vestida pois era uma Companhia muito chique. Apareci entao no dia, com um terninho de saia preta, camisa de seda, sapato alto, meia fina, cabelo todo arrumado, maquiada. 
Entrei, fui apresentada ao Gerente e ele disse assim: "Olha, o seu servico
será  tirar xerox de um projeto". E mostrou-me uma copiadora que parecia o modelo mais sofisticado do Boeing 737. Tinha tanto botao, que parecia a cabine de um piloto.  Na hora me deu aquele um minuto de inseguranca e de esguelha, olhei onde seria a porta da saida se precisasse deixar o combate.

Depois de algum treino, entendi a máquina, o que para mim foi um sucesso! Entao nesse projeto, eu ficava oito horas em peh,  com meu salto alto  e terninho, tirando copias. E eu que pensei que seria uma mini-executiva. Bah! A noite, chegava em casa e colocava meus pes na salmoura.

Mas consegui ficar 3 meses ate o projeto ser terminado. Sai de lá e fui indicada como a melhor temporária que eles tiveram.  Isso era um bom começo, né? Mesmo somente tirando copias!
Entrei então no mundo do trabalho, de uma forma simples mas efetiva. Pude ver as rotinas, entender os intervalinhos, o modo que almoçam, como se portam. Diria que foi uma boa lição!

E assim trabalhei lá e em muitas outras, mas os outros trabalhos começaram a ser mais interessantes, entrar números no computador, informações, aprender novos software, conhecer mais pessoas, falar, ser entendida, entender.
Enfim, estava eu no mundo do trabalho nos EUA!

Depois de diversos trabalhos temporários, consegui um emprego em uma Empresa Construtora onde fiquei 10 anos, como Recepcionista, Secretária, fazia a folha de pagamento de 150 eletricistas. Fui assim tipo Bom-Bril, de 1001 utilidades. Foi a fase melhor da minha vida. Conheci pessoas incríveis e era tratada com muito respeito. Fiquei amiga dos eletricistas e de suas famílias. O Presidente da Empresa gostava muito de mim. Foi muito boa essa experiencia, e somente sai de lá quando a Empresa fechou. Uma tristeza!

Mas plantei nessa Companhia a sementinha do ABRAÇO BRASILEIRO. Quando sai de la, todo mundo se abraçava.

Depois disso ainda trabalhei em outras Empresas, ate que resolvi parar em 2016. Hoje eu apenas aceito trabalhos temporários, e trabalho 4 meses por ano, mais  no inverno, e continuo divertindo-me com novos desafios.

(Na foto, uma festinha de fim de ano na Companhia que trabalhei, Eagle Services of Cincinnati, e esses sao alguns dos Eletricistas).

 
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 26/07/2020
Reeditado em 26/07/2020
Código do texto: T7017755
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