A Bela Adormecida!
A Bela Adormecida!
Recebi o desafio de um de vocês, meus leitores, uma crônica sobre a Bela Adormecida. Recorri a Perrault, ele gastou 11 páginas para contar a história da princesa. Bruno Bettelheim, o psicanalista, coincidentemente, mais 11 páginas para explicar as razões de tudo aquilo. Eu prometo não ultrapassar uma A4.
Não foi tão longe assim. A menina curiosa, ao tocar a ponta afiada de um tear, sentiu uma leve fisgada e ao ver o sangue rubro correr no seu dedo indicador, desfaleceu. E como morta foi levada para casa. Seus pais desesperados, não sabiam o que fazer para salvar a encantadora filha. E ai lembraram que ali perto deles, lá na Furna do Chiqueiro, morava um senhor, já idoso, cabelos brancos, que tinha a fama de ser benzedor, quase feiticeiro, que tudo costumava resolver. Correram lá. O velho ouviu atentamente a história do ocorrido, abriu um livro rabugento, capa preta, fez um exconjuramento e tranquilizou os pais desesperados. Disse para eles que na manha seguinte, logo depois do cantar do galo, uma aparição miraculosa tudo resolveria. Os pais, ainda apreensivos, despediram do velho senhor e foram para casa cuidar de sua preciosa filha, que estava como morta, mas belamente adormecida!
Aquela noite foi como se fossem cem noites... mas, de madrugada, ao cantar do galo, como prometido, a família viu aproximando de sua casa um corcel, montado nele um jovem de cabelos longos, loiros, esvoaçantes, olhar perdido no horizonte. Parou a montaria, desceu e perguntou onde estava, não esperou resposta. Perguntou se podia entrar. Também não esperou que alguém lhe indicasse o caminho. Continuou a andar como se uma força invisível o impelisse a ir sempre em frente. Foi indo, indo, indo... até topar com o catre onde a menina, a bela adormecida estava desfalecida. A figura mítica ali parou. Ajoelhou, inclinou-se sobre a jovem e osculou a sua face esquerda...
A menina despertou, olhou espantada para aquela aparição e saiu em disparada, como se tivesse visto assombração... foi parar lá na fazenda do João Leite, fugindo e pedindo proteção, não queria, no seu dizer, entregar o seu coração para o primeiro forasteiro que aparecesse em sua vida...