Intuição de Mãe

Domingo de sol. Chegou à praia junto com a mãe e o irmão mais novo e diante daquele mar brilhante e convidativo, não pôde esperar. De imediato, mesmo com os protestos de sua genitora, tirou a “saída de banho”, largou-a na areia e correu na direção da água ansiando por um mergulho.

— Espere um pouco! Menina, cuidado! Não vá muito longe, é perigoso! Sua mãe continuava gritando, enquanto ela se limitava a concordar apenas meneando a cabeça, ao mesmo tempo que corria para aquela imensidão azul.

Era um dia quente, e qual não foi seu prazer quando mergulhou de corpo inteiro sentindo a refrescância que aquela líquida vastidão salgada proporcionava.
Não contente ainda, decidiu se aventurar um pouco mais, dando algumas braçadas entre as ondas. Sua mãe recomeçou a esbravejar, posicionada na beira d’água. Não querendo contrariá-la ainda mais, resolveu voltar mesmo a contragosto. Nesse momento, inesperadamente, seu pé direito bateu em uma pedra. Não sentiu dor, mas com um movimento involuntário tocou a sola do pé em questão, e um calafrio percorreu sua espinha. O hálux, popularmente chamado de dedão estava esfacelado.
Rapidamente saiu da água. Começou a chorar quando viu o sangue jorrando, se misturando à areia. Correu para os braços da mãe, que dizia:

— Eu estava sentindo que ia acontecer alguma coisa. Por que não me ouviu?
Sem perder tempo, entre os curiosos procurou alguém que pudesse ajudar naquele momento, afinal tinha que levar a filha para um hospital. Não estavam de carro, pois moravam perto da praia e costumavam ir a pé. Mais que de repente, entre os curiosos, surgiu um rapaz que, sem falar nada, amarrou sua camiseta no pé machucado. Em seguida, a colocou nos braços e falou:
— Dei um nó de marinheiro com a camiseta, vai estancar o sangue até chegar no hospital. Estou de carro, levo vocês.

A mãe da menina, reconheceu o moço, enquanto o seguia, apanhando os pertences e segurando o caçula pela mão. Era o filho mais velho de uma vizinha costureira que tinha retornado há pouco para casa. Era marinheiro.
No setor de emergência de um hospital público foi prontamente atendida, apesar de uma recepção lotada. Uma senhora robusta, com cara de cansada, a conduziu pela mão, somente ela (não permitiu acompanhante), por um corredor comprido até um ambulatório, onde a sutura seria feita.
Foi colocada em cima de uma espécie de mesa pela referida senhora, ou melhor, era uma das enfermeiras de plantão naquela fatídica manhã, que precisou usar uma tesoura para se livrar do pano amarrado em seu pé. Concluída a assepsia, aplicou uma anestesia local e logo depois deu início à sutura. Foram alguns pontos.
Mais tarde, em sua casa, sentada em uma poltrona, a menina olhava para o pé machucado, cuidadosamente apoiado em um pufe, revivendo toda a aventura dominical, e ainda, o medo que sentiu, além do remorso de não ter obedecido sua mãe. Ademais, teria que passar um bom tempo mancando, trocando curativos periodicamente, impedida de fazer muitas coisas durante o período de alguns meses, inclusive mergulhar no mar.
Intuição de mãe...

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