A fé não se prescreve
É possível ter fé em Deus, mas não seguir religião alguma?
__ É perfeitamente possível se considerarmos a palavra religião como sendo a denominação de uma determinada crença. Mas o verdadeiro significado da palavra é "religação", conexão com o nosso Criador.
Podemos sim ter a religião sem seguirmos uma determinada crença.
Porém... ao acreditar em Deus, corremos um sério risco: o risco de, em algum momento de nossas vidas, sentirmos uma necessidade de saber mais sobre Ele, sobre as coisas que Ele preparou para nós e o que espera para seus filhos...
Eu era assim... uma dessas pessoas que somente acreditava em Deus. Mas não tinha despertado esse interesse por conhecer o que Ele esperava de mim, além do básico bom comportamento revelado nos 10 Mandamentos...
Ainda assim, os 10 Mandamentos são apresentados com leves diferenças se formos olhar as diferentes religiões (que vou chamar de crenças para evitar confusão com o real significado da palavra)...
E numa dessas descobertas nessa busca (que não ocorreu de forma simples), cheguei aos 2 Mandamentos que Jesus nos deu... Resumiu aqueles 10 que Moisés trouxe... Mas usou uma palavra que muitas pessoas ainda não compreendem seu real significado: "Amar Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos" ... Como assim?? Amar todo mundo?? Até os "inimigos" ?? Até aquela gente que mata outras gentes ??
É um risco que a gente corre quando acredita em Deus... um risco que a gente corre quando tem fé em Deus... A gente corre o risco de sentir a necessidade de ir além... e a história mais antiga está naquele livro de muitas páginas chamado "Bíblia"...
E não por acaso está dividido em "Antigo Testamento" e "Novo Testamento"... Trata-se portanto de um livro que contém informações sobre uma herança que aguarda os filhos. A isso se referem os testamentos: alguém irá receber alguma coisa, e por vezes existem obrigações ou pedidos feitos pelos autores dos testamentos.
Mas então, chegando aos Mandamentos de Jesus, que eram para cumprir os anteriores revelados por Moisés, acredito que eu já estava fazendo o estudo da Doutrina Espírita (que somente iniciei em 2016), então consegui compreender que sim!! É perfeitamente possível amar o próximo como a nós mesmos. Deixei de ser a favor da pena de morte por compreender que a vida é eterna, e que o aprendizado é constante. Compreendi que o amor é uma escolha, é um ato que devemos dispensar a todos, mas que teremos mais afinidade com algumas pessoas do que com outras... O amor vai além da afinidade que sentimos por alguém, e na própria Bíblia está colocado em lugar mais importante do que a própria fé.
Compreendi que o conhecimento revelado através da Doutrina Espírita já era prometido por Jesus, quando disse que enviaria o Consolador Prometido, porque Ele nos falou através das parábolas das coisas que não podia nos falar claramente. O Espiritismo cumpre o que Jesus falou, não veio para destruir a lei, mas sim para dar-lhe cumprimento, trouxe as respostas nos fazendo recordar de tudo aquilo que Ele nos disse.
Então... fé é isso... Cedo ou tarde, é natural querer conhecer um pouco mais sobre Deus e sobre Jesus, que já era esperado pelos profetas do Antigo Testamento. Da mesma forma, muito do que estamos vivendo hoje também foi revelado no Novo Testamento...
Algo importante a ser pontuado é a questão da compreensão... A fé é patrimônio pessoal e intransferível, o entendimento também... Quem inicia essa busca precisa ter essa tranquilidade de que pode ter seu entendimento particular... Não é necessário fugir do conhecimento por receio de não conseguir compreender (embora saibamos que por conta da má interpretação de alguns, foi o Evangelho usado como desculpa para muitas guerras e discórdias).
Mas temos um Deus que é soberanamente Bom e Justo. Ele sabe o melhor para todos nós e nos dá a oportunidade da vida para o nosso aprendizado e evolução espiritual.
Qualquer interpretação que nos faça ter um entendimento diferente deste, merece sim uma pesquisa mais aprofundada. Ele não nos daria os mandamentos se não tivéssemos a capacidade para cumprir o que Ele determinou.
Finalizando este breve resumo... fé na existência de Deus, eu já tinha. Mas ao buscar um pouco mais desse conhecimento, pude ver o que Ele espera de mim... Antes eu ia na Igreja Católica fazer minhas preces, ia na Casa da Paz Allan Kardec, ia nas Igrejas Evangélicas quando meu pai morava aqui e convidava... Mas sem entender muita coisa... Minha busca teve mais foco a partir de 2016, quando iniciei os estudos da Doutrina Espírita. Um dos motivos foi o AVC da minha mãe em 2014 e perdas pessoais nos anos seguintes... Minha mãe faleceu em 2017 e até 2019 eu permaneci com os estudos, os quais decidi paralisar em 2020 para tentar dedicar em outros projetos... Mas essa busca não terminou com a pausa que fiz, ainda mais com tantas perturbações que se revelaram em 2020...
Creio realmente que essa busca fez bem para mim e vejo o consolo que a fé pode proporcionar... Algo que aprendi na faculdade em 2011: "Só é útil o conhecimento que nos torna melhores"... Certamente, investir na fé é investir em um conhecimento no que nos auxilia na educação dos nossos pensamentos e sentimentos. A fé proporciona a nossa reforma íntima, por isso mesmo nos fortalece!!
___ "Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve; daí muitas pessoas dizerem que não é por sua culpa, que não tenham fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, e o que é ainda mais justo: a fé não se impõe. Não, ela não se recomenda, mas se adquire, e não há ninguém que esteja privado de possui-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença particular. Não cabe à fé ir a eles, mas a eles irem ao encontro da fé e, se a procuram com sinceridade, a encontrarão. Tende, pois, por certo, que aqueles que dizem: 'Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos' , o dizem dos lábios e não do coração, porque, em dizendo isso, tapam os ouvidos. Para termos fé, é preciso uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer; para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque quer se impor e exige a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre arbítrio. É essa fé contra a qual sobretudo se obstina o incrédulo, e da qual é verdadeiro dizer que não se prescreve; não admitindo provas, ela deixa no espírito um vago de onde nasce a dúvida. A fé raciocinada, a que se apoia sobre fatos e a lógica, esta não deixa atrás de si nenhuma obscuridade; crê-se porque se está certo, e não se está certo senão quando se compreendeu; eis porque ela não se dobra; porque não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade".