CUIDADO FRÁGIL

— Mermam, ô cidade ruim aquela tal de Brasília, é bom para os bacanas que moram lá no poder, mas para nós que mora longe, as coisa é muito difícil criatura. Infelizmente a gente tem que ir pra lá por que aqui não tem emprego, mas qualquer hora dessas eu venho mimbora, para o meu Ceará. Fica tranquila que eu levo sua encomenda pra comadre.

— Muito obrigada mulher, é que a bichinha fica o tempo todo reclamando que lá tem muita muriçoca. Eu tenho tanta pena dela.

— É mermo criatura, ô lugar infeliz pra ter muriçoca.

— Mulher dá lembrança a minha filha, fala pra ela que eu tô morrendo de saudades.

— Pode ficar tranquila criatura, eu falo sim e pode deixar que sua encomenda eu levo com muito cuidado, com muito carinho, como se fosse para mim.

Quando a mulher chegou a Brasília, a comadre foi toda faceira buscar a encomenda que sua mãe havia mandado do Ceará. A mulher trouxe a caixa no bagageiro do ônibus com todo carinho, sempre recomendando aos motoristas para terem muito cuidado por que a criatura era muito zelosa e era bom evitar problemas. Vai que quebrasse alguma coisa.

— Comadre está aqui sua caixa. É um pouco grande, deu muito trabalho, mas eu trouxe com cuidado como eu prometi a sua mãe. Deve ser mel, rapadura, batida, farinha, carne seca, manzape, alfinim. Não se esqueça da sua comadre, eu adoro essas coisas.

— Pode ficar tranquila, vou repartir tudinho com você. Ô caixa grande da gota, mas ainda bem que é maneira. Vou pra casa encher o bucho das minhas catrevagens que eles tão que não se aguentam mais. Querem logo saber o que a vó mandou. O cabiçudim mais novo tá com três noites que não dorme direito, pensando nesta encomenda.

Quando a coitada abriu a caixa, toda ansiosa, com gosto água na boca, cheia de esperança, cheia de planos, pensando que ia comer uma rapadurazinha com farinha ou um pedacinho de bode; aquela penca de barrigudinhos em volta da lâmpada mágica do gênio, não pode disfarçar a decepção. Ao mesmo tempo em que o cabeção mais velho, espantado, falou: Diabo é isso mãe?. A infeliz colocou a mão na cabeça e disse desapontada:

- Bosta de vaca!!! Ai meu Deus, para que eu fui falar pra mãe que aqui tinha muriçoca? E ainda manda nesta caixa onde tá escrito: CUIDADO FRÁGIL.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 26/07/2020
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