Se Deus quiser...
Toinho era um garoto travesso. Morava em uma pacata cidade do interior e estudava em uma escola pública. A única do lugarejo. Era bastante inquieto e não conseguia ficar parado, sempre estava fazendo qualquer coisa que fosse, até mesmo ajudar na igreja a limpar o interior da enorme estátua do santo, que era oca por dentro. Padre Túlio sempre o chamava para isso, afinal não era qualquer um que cabia dentro daquela escultura. E ainda, pelo fato do menino ser filho de uma senhora muito religiosa e devota a Deus, a quem o sacerdote tinha muita consideração e respeito.
Quando não estava na escola, além de ajudar na igreja, também ajudava a mãe e os irmãos nas tarefas de casa, e quando tinha uma folga, jogava futebol com os amigos em um campo de areia, outras vezes ia tomar banho no rio, também subia e descia de árvores, entre tantas outras coisas que fazia para se divertir, mas o que lhe dava mais prazer era ir para a fazenda do avô materno em feriados e também em alguns finais de semana. Lá, era onde se sentia realmente livre, principalmente quando galopava no Orfeu, seu cavalo, presente do avô.
Na sexta-feira chegou da escola esfuziante, pois sabia que na manhã seguinte, bem cedinho, iria com a família para a fazenda.
— Toinho, vá tomar banho, logo servirei à mesa! Gritava sua mãe da porta da cozinha, quando o viu chegar.
Na hora do almoço, receberam um visitante muito querido e respeitado por todos da casa, Compadre João Luiz, padrinho de Toinho. Era um senhor já idoso, de muita sabedoria. Após a refeição, os homens, entre adultos e crianças, foram para a sala principal, enquanto dona Maria, mãe de Toinho, passava um café e a filha mais velha lavava a louça. Sentado no chão batido, o menino brincava com o irmão mais novo montando um quebra-cabeças, enquanto os compadres, pai e padrinho, conversavam sobre variados assuntos.
Minutos depois de saborear o café da comadre, Compadre João Luiz se despediu de todos, desejando-lhes uma boa viagem. Virou-se para o afilhado e falou em tom de brincadeira:
— Vai viajar mesmo amanhã? Tem certeza?
O garoto olhou para ele com um grande sorriso e, sem hesitar, respondeu:
— Vou sim, e nada vai me impedir.
— Melhor dizer: “Vou, se Deus quiser.”
— Eu vou, mesmo que Ele não queira.
Surpresos com a resposta, seus pais e o padrinho, juntos, lhe deram um sermão. Quase levou umas palmadas de seu pai, o que foi impedido pela mãe. Mas, o colocaram de castigo no quarto e o obrigaram a rezar 5 (cinco) Pai-Nossos e 10 (dez) Ave-Marias.
Quando a noite caiu, ele ardia em febre. Dona Maria fez tudo o que podia para que a febre baixasse, mas sem sucesso. Seu Zé, o pai, muito preocupado, foi até a residência do Dr. Murilo, o único médico da cidade, para que fosse a sua casa resolver o problema.
Quando a noite caiu, ele ardia em febre. Dona Maria fez tudo o que podia para que a febre baixasse, mas sem sucesso. Seu Zé, o pai, muito preocupado, foi até a residência do Dr. Murilo, o único médico da cidade, para que fosse a sua casa resolver o problema.
— A garganta dele está muito inflamada, esta é a causa da febre. Concluiu o médico, depois de examinar o menino. — Tenho aqui comigo um antibiótico muito bom para eliminar essa infecção, e que deve ser administrado o quanto antes.
Enquanto o pai de Toinho ouvia com atenção tudo o que ele dizia, dona Maria foi correndo à cozinha pegar água para o garoto tomar o remédio.
Os donos da casa acompanharam o doutor até a porta quando a consulta terminou. Além do que já tinha falado, acrescentou:
— Não recomendo a viagem de amanhã, deixem para outra oportunidade, a estrada tem muita poeira e não será bom para ele. E paralelo ao medicamento, também é bom um chá de hortelã com mel ou chá de gengibre e gargarejo de limão. Boa noite, e caso precisem de mais alguma coisa, basta chamar. Fiquem com Deus.
Com gratidão, se despediram dele e voltaram para dentro de casa.
No dia seguinte, pela manhã, Compadre João Luiz, foi visitar seu afilhado, depois de receber um recado do que havia ocorrido.
No dia seguinte, pela manhã, Compadre João Luiz, foi visitar seu afilhado, depois de receber um recado do que havia ocorrido.
— Filho, a viagem agora não deu certo, você tem que se cuidar, mas no próximo final de semana, quem sabe, você já vai poder viajar...
Toinho levantou os olhos na direção do padrinho, juntou às mãos e em um gesto de oração, falou:
— Se Deus quiser.
Toinho levantou os olhos na direção do padrinho, juntou às mãos e em um gesto de oração, falou:
— Se Deus quiser.