Drummond, A Flor e a Náusea
COMO é prazeroso ler os nossos grandes poetas. Faz bem à mente, ao coração e à alma. Ontem li alguns poemas de Drummond. Um deles li, reli e tresli (Machado usava esse tresli), "A Flor e a Náusea". É perfeito. E mais do que isso é atualíssimo e nos instiga a refletir. É uma alegoria à revolta conta a mesmice e um manifesto em defesa da natureza. Vou transcrever o poema:
"Preso à minha classe e algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta./ Melancolias, mercadorias espreitam-me./ Devo seguir até o enjoo?/ Posso, sem armas, revoltar-me?// Olhos sujos no relógio da torre:/ Não, o tempo não chegou de completa justiça./ O tempo é ainda de luzes,/ maus poemas, alucinações e espera./ O tempo pobre, o poeta pobre/fundem-se no mesmo impasse.// Em vão me tento explicar, os muros são surdos./ Sob a pele das palavras há cifras e códigos./ O solo consola s doentes e não os renova./ As coisas . Que tristes são as coisas/consideradas sem ênfase.// Vomitar esse tédio sobre a cidade./ Quarenta anos e nenhum problema/remedado,sequer colocado./ Nenhuma carta escrita nem recebida./ Todos os homens voltam para casa./ Estão menos livres mas levam jornais/e soletram o mundo, sabendo que o perdem.// Crimes da terra, como perdoá-los?/ Tomei parte em muitos, outros escondi./ Alguns achei belos, foram publicados./ Crimes suaves, qe ajudam a viver./ Ração diária de erro, distribuída em casa/os ferozes padeiros do real./ Os ferozes leiteiros do mal.// Por fogo em tudo, inclusive em mim./ Ao menino de 1918 chamavam anarquista./ Porém, meu ódio é o melhor de mim./ Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.// Uma flor na./ Uma flor nasceu na rua! / Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do trafego./ Uma for ainda desbotada / ilude a polícia, rompe o asfalto./ Façam completo silêncio,/ paralisem os negócios,/ garanto que uma flor nasceu.// Sua cor não se percebe./ Suas pétalas não se abrem./ Seu nome não está nos livros./ É feia. Mas é realmente uma flor.// Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde/ e lentamente passo a mão nessa forma insegura./ Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se./ Pequenos pontos brancos movem-se do mar, galinhas em pânico/É feia. Mas é uma flor.// Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio". Leiam e refltam. Inté.