Ausência
Pra você eu tiro meu chapéu, é clichê? Pois que seja.
Não me incomoda as falas da oralidade nem aquilo que é tão vivo nos nossos atos de fala.
Incomóda-me a ausência, esta é uma penintência irremediável, sofrida e sem reparos.
Não vale o pedido de desculpas, a desculpa esfarrapada nem muito tampar o sol com a peneira.
Eu sou sol, de leão, sei bem que quando ele quer queimar não há protetor com força supra que o impeça, chega e faz o estrago.
Assim é a ausência, pois o coração leva sempre um tempo para se ordenar antes do encontro e se não acontece como deve ser, a ausência se transforma em nódoa e não há brinde de vinho seco capaz de fazê-la largar desse tecido chamado pele.
Está na pele o valor que damos aos momentos de encontrar quem nos faz bem e produz prazer em nós.
Porque a ausência não apaga o tempo espectado que poderíamos ter perdido pendurando palavras na árvore da vida: tudo bem? Diga meu nome! Qual o seu signo? Calor ou frio? Eu prefiro as manhã de inverno....
Caso as palavras não abrolhassem, os gestos: nervoso, o esquisito, a cara de quem quer algo, as mãos nervosas, o riso forçado, a testa contraída e, e, e...
A gente se perde com tanta coisa entalada na garganta querendo sair ao mesmo tempo e você pedindo para que eu tenha paciência. Não, não desejo isso nesse momento. Prefiro a afobação de deixar a língua frívola, com gosto de vinho, vinho branco seco, não muito gelado nem natural, na temperatura ideal.
Tudo isso aqui passando e eu buscando entender a necessidade de existir baratas no universo. Acho que é a ferrugem latente nos meus sentimentos responsáveis por esses surtos de nada acometidos em mim.
Porque o riso nem sempre é de alegria, há dias nos quais ele é ausência. Pronto, o riso é a ausência de... Já posso entrar para a história como um grande pensador. Acabei de descobrir que o riso é a ausência de, de pessoas cujo comportamento talibado podemos trocar certas flerpas. Daí, em mim, o clichê de que os bons morrem jovem.
Daí a confusão de hoje, e a ausência nascida na vitrola há tempo esquecida. Logo hoje acordei com saudade intensa da Jane Joplim e da sua voz rouca cantando para mim "Cry Baby". Me vi mexendo os pés, as mãos sambando no espaço e uma ausência crescente de algo bom. Vislumbrei o Cazuza no breu de mim, na minha voz presa e na voz rasgada dela a dizer Down em mim porque dói em mim essa ausência ideológica. Minha lógica correu os olhos pela estante e num instante o Renato Russo me dizia que tudo está perdido, perdido, a até o senso ausente dos bons que já se foram. Tudo vai, na verdade, vão-se os anéis e os dedos enfio no cumprimento nostálgico do querer sempre acertar, embora o erro, o erro é meu, só meu porque insisto em viver. Ainda mais esse clichê Zinho para me conduzir a esse estado pleno de aleatória vontade de pensar.
Morrem ou não morrem?
E a morte é ausência?
O que me contenta é que enquanto ela não chega, podemos beber um vinho bordô e escolher um bom programa de domingo, fazer pipocas e ouvir os discos da Elis, da Clara, dos Doces Bárbaros, da Legião...
Acho que o vinho tinto seco me deixou em estado de sexo, eu faço amor com as palavras. Das mais redondas às mais quadradas. Fazer sexo com elas é o mesmo que se encher de inxerimento, de sentir a ponta do nariz fervilhando e as virilhas em Frenesi.
Algumas palavras, eu gosto de tê-las na boca, como um sexo oral ou oralizado no hemisfério horizontal da minha língua deitada ali, a observar o céu de minha boca.
Parece surto, mas não é, são apenas clichês. Embora a vivacidade da cena em sentir as palavras na ponta da língua, articulando a glote e sendo degustadas pelo palato senso desse aparelho reprodutor de sons, desculpa, nos faz esquecer por segundo da ausência provocada por quem deveria estar aqui, mas descobriu, em cima da agora, de algo mais prazeroso, e tudo que eu queria dizer é o clichê: Não vivo sem você, mas o tempo, o tempo é inimigo da perfeição e eu que nem profissão tenho, além do ofício de brigar com as palavras, fico à deriva do real.
A ausência é desprazer, aprenda isso. Alguém sempre há de sofrer quando o outro não aparece ou não levou tão a sério aquele compromisso.
Fico irritadiço, nada faz voltar meu humor num estalar de dedos.
Os dedos agem melhor quando acionados para escrever na pele outras possibilidade. Porque ele é tato e a linguagem tátil não é oral.
Por hora, preciso ir à luta, nada cai de paraquedas, nem a ausência, ela só existe porque o homem inventou de inventar uma situação para ficar assim, de cara com a irritação.
É clichê, pode até ser, o que importa? É na língua bárbara que as melhores trocas de ideias acontecem, os melhores afagos e os mais intenso gozos de quem gosta de dizer: vai, só mais uma vez, vem, sou mais uma...
Marcus Vinicius