Eu não sei quem sou
Por muito tempo eu não aceitava quem era. Eu deixava que as minhas inseguranças ditassem como eu me comportava, o que falava e como agia. Eu me escondia atrás dos meus óculos grandes, livros e meu cabelo juba de leão – em uma época de todo mundo igual, eu me sobressaía por meu cabelo cheio. Sempre tão quietinha na minha, buscando não chamar atenção de ninguém. Eu apenas existia no mundo, sem deixar uma marca.
Por muito tempo deu certo. Eu não me encaixava, a não ser com poucas pessoas. E eu achava que era feliz. Que aquele era o meu lugar. Olhando a minha vida em retrospecto, eu nunca me encaixei muito bem em nada. Sempre me senti inadequada. Eu falo alto demais, rio exageradamente, expresso minha opinião com muita determinação.
Lembro que eu tinha vergonha de rir pois meus primos diziam que a minha risada era feia. Detesto mandar áudio pois acho minha voz feia e estridente. Sempre procuro falar baixo e devagar. As minhas opiniões eu guardo para mim. Sempre dizem que sou muito chata e bruta, por isso sempre tento ser o mais legal possível.
Em meio a tantas concessões e cobranças que fiz a mim mesma por tanto tempo, para mudar e me adequar, eu me pergunto quem sou. Quem eu sou de verdade. Será que sou uma boa pessoa? Como eu vou saber? Talvez por minhas ações, mas não consigo julgar a mim mesma. Eu sei que sou uma pessoa boa, mas só o tempo dirá quem eu sou.
Contudo, estou cansada de sempre querer mudar, e não saber exatamente o que devo mudar ou por quê devo fazê-lo. Parei de querer mudar algo que não é meu desejo. Eu não quero mais abrir mão de pequenos pedaços de mim por não enxergar quem sou. Preciso me aceitar por inteiro. Tanta coisa eu já mudei em mim e é bom, mas às vezes me desespero.
Uma vez li um livro em que a protagonista se questionava porque ela se achava insuficiente e chegou à conclusão de que ela sempre foi coadjuvante em sua própria história. Isso me deu um choque de realidade. De certa forma, eu me identifiquei os questionamentos dela. Eu também me acho insuficiente, como se alguém não pudesse olhar duas vezes para mim. Até hoje não sei reagir a um elogio porque não acho que mereço. Tenho a ideia de que o amor não é para mim porque não consigo acreditar que alguém se apaixonaria logo por mim. Sempre me deixo de lado pois quero ajudar todo mundo, mesmo que às vezes eu precise deixar de lado a minha própria dor – eu não considero isso um defeito, pelo contrário, é a minha melhor qualidade, ser leal; eu só preciso aprender a cuidar de mim um pouquinho também.
Eu não sei quem sou, mas quero acreditar que irei descobrir. Preciso focar mais em mim, no que quero, no que gosto e tentar descobrir quem eu sou.