Um apóstolo da internet

Algumas vezes, algumas muitas vezes, na história da cristandade, a morte consagra o que o cristão – e aqui uso o termo na mais pura acepção que pode ter, o de verdadeiro seguidor de Jesus Cristo – como santo antes da “ratificação” (porque a Igreja não faz santos, mas sim Deus) oficial. Seja pela forma como viveram, pelo que ensinaram ou como morreram. Um exemplo que me vem a mente rapidamente é o de São João Paulo II, que já em seu funeral eram vistas faixas escritas “santo súbito”, e que realmente teve o processo de canonização abreviado pela Igreja e em pouco tempo foi elevado á honra dos altares.

E também foi o caso de Dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares. Os pedidos foram feitos quase que imediatamente após a sua morte. Mas de maneira diferente, como houve de ser seu apostolado que se desenvolveu na internet. Imediatamente a divulgação das notícias de sua morte, sugiram as hashtags “#SantoJá”, “#SantoSubito”. Na internet, que ele muito argutamente viu como um meio de propagar a fé nesses tempos estranhos de distanciamento da Verdade e relativização da fé.

E com isso ultrapassou os limites da sua pequena diocese, “perdida” no interior de Pernambuco, conseguindo a proeza de ser bispo de todo um país através das redes sociais. Seu apostolado, que se desenvolveu através da rede, atingiu milhares, senão milhões de pessoas, fazendo o que sabia e tinha por missão, e tinha plena consciência disso, fazer: mostrar a fé em sua totalidade e sua Verdade intrínseca de forma clara e inequívoca.

Mas o que Dom Henrique tinha de mais fantástico era essa capacidade de estar perto do povo a ele confiado e de todos os povos que o escutavam falar. Muitos foram os relatos de pessoas que nunca nem sequer chegaram perto dele, que não eram de sua diocese, nem do mesmo estado, dizer que se sentiam órfãos com sua morte. E mais do que isso: que tiveram suas vidas mudadas ouvindo Dom Henrique. Isso por que ele não era um bispo hierático e distante, quase intocável, como a gente vê muito por aí. Ele se deixava chegar perto, fotografar, filmar, conversar, de andar no meio do seu povo, sabendo de suas dores e angustias e festejando suas alegrias, gostava de estar perto dos seus filhos que o amavam.

Se conta que antigamente bastava a aclamação popular para um cristão de fato ser considerado santo. Hoje a Igreja disciplinou a prática e o processo se tornou mais demorado. Mas como diz o antigo ditado que a voz do povo e a voz de Deus, podemos ter uma certeza: muito em breve estaremos todos comemorando a memória litúrgica de Dom Henrique, Bispo e Apóstolo da Internet.