CAMILO gostava de andar de carroça. Desde pequeno sempre dava um jeito de ir com seu pai ao povoado mais à noite, depois do trabalho árduo do campo. Na vendinha o pai sentava e ficava ouvindo as histórias e as fofocas. Camilo ficava chupando o seu pirulito preferido. Depois pegava um pacote com balas e levava para seus irmãos. Dois mais velhos e três mais novos. Uma noite o menino ouviu o velho barbudo, morador da região, narrar, para todos que estavam dispostos a ouvir sua voz cheia de pigarros, histórias de fantasmas. Sentiu medo dentro do seu cérebro de nove anos. Quando voltava para casa, cada bicho que corria pela ramagem ou cada coruja que alçava voo com o aproximar da carroça era um susto enorme. Depois daquela noite Camilo não quis voltar à vendinha para andar de carroça. Os adultos não sabem como desencantam as crianças com suas histórias sem pé e nem cabeça. Camilo não desgostou das carroças. Hoje ele puxa a sua pela beira do asfalto, catando matérias recicláveis para sobreviver. Ainda tem medo de fantasmas. Mas os inúmeros monstros da cidade que passam por ele na rua nem o percebem e quando o percebem, desviam. Camilo é que parece, agora, assustar as pessoas.