Atroaldo, o escritor tortuoso. 2

-Meu caro Atroaldo! Quanto tempo. Você por aqui.

-Caro não, caríssimo! Escute aqui: É preciso abdução, Solslaio, abdução. Você não está entendendo. Pense comigo, Soslaio, a metafísica foi abduzida. Preste atenção: nós somos amigos de muitos anos. Está vendo aquele homem naquele balcão pagando imposto?

-Estou.

-Pois agora é que eu reparei.

-Reparou no quê?

-Soslaio acorda! Estão abduzindo o dinheiro do bolso daquele homem. Por transcendência a transcendência virou abdução, Soslaio.

- Meu Deus!

- Soslaio você parece que não me conhece. Mas o que é que isso? Você precisa tomar chá de hermenêutica. Hermenêutica!

-Meu caríssimo Atroaldo. Você está vendo aquela mulher bonita que está passando?

- Estou. Linda! Lindura! Lindeza! Está tirando um espelho da bolsa... Acho que vai esvurmar uma espinha naquele rostinho lindo...

- É minha mulher!

- Preciso me expungir! Soslaio, preciso me expungir!

- Então eu também vou me expungir. Adeus!

- Soslaio não vai embora! Abre os livros, Soslaio. Vem cá, abre os livros! Eu sempre digo: “ler é bom, mas tem que ser sintético!”.