E ela andava
E ela andava, ia embora dali a passos duros! Xingando a existência e se arrependendo do maldito momento em que me deixara entrar em sua vida. A chuva forte de fevereiro consumia aquele estacionamento, um calor desumano se instaurara sobre o local, o calor mais frio que já conheci!
Mas onde estou eu? Você, provavelmente, se pergunta. Eu estou parado, nessa mesma tempestade de verão, estático, vendo ela ir. Não que eu esteja atônito, ou surpreso com sua saída, mas eu estava consumindo por uma sensação que só compreenderia meses depois, escrevendo uma carta.
Ah essa carta! Talvez o auge do meu autoconhecimento! Foi nela que descobri tanto sobre a vida! E essa escrita me trouxe uma verdade, talvez a maior verdade sobre a arte, que eu me negava a ver: as pessoas tendem a só escrever para elas.
Veja bem, que o ser humano é egoísta a maioria de vocês ja sabe, mas na escrita, muitas vezes não percebemos! Os nossos grandes escritores, que discursavam sobre amor e ódio, nada mais faziam do que se satisfazer por histórias ! E nossos queridos gurus do autoconhecimento, so escrevem para descobrir sua verdade.
E, assim, os escrevo. Aqui, as três da manhã, buscando uma forma de me entender, de entender tudo que passou em minha vida, desde aquele chuvoso fevereiro. Nessa história, você, meu querido amigo (poderia até chamar-lhe de leitor, mas acho que a esse ponto, se você ainda lê minhas desventuras pessoais, prefiro pensar que já somos próximos) é apenas um passageiro, do trem desgovernado da minha vida.
Acho que a pergunta mais importante do mundo não é por que escrevemos, mas sim por que lemos. Entrar tão fundo no psicológico de um desconhecido, é algo um tanto quanto incomum, para o ser mais egocêntrico desse planeta. E para isso , não tenho resposta. Talvez seja para nos entendermos pela experiência do outro, ou para ver que não estamos sozinhos!
Eu particularmente leio para tentar entender os porquês de tudo ter mudado, o porquê de ela andar, saindo daquele estacionamento a passos duros. Ah é! Era ai que eu estava! Pois bem:
E ela andava, ia embora dali a passos duros! Xingando a existência e se arrependendo do maldito momento em que me deixara entrar em sua vida. Pensando bem, acho que ao escrever para você, a real motivação dela me veio a tona! Muito obrigado amigo!
Obrigado por aguentar minhas lamúrias de dores passadas! E aguentar minha eterna repetição da mesma frase.
E ela ainda andava, mas bem, como escrevo para mim, você não irá saber o final dessa história.