Paúba, um vilarejo

Sabe o que é passar quase uma vida inteira esperando voltar seus olhos novamente para o mar? Pois foi o que aconteceu com ele. Cresceu entre pranchas e ondas e nunca imaginou ter que viver no interior de horizontes vazios, sem mar, sem montanha, sem brisa ou maresia. Mas assim foi e logo se adaptou. Substituiu sua bike por uma moto, sua praia por estradas sem fim, mas não deixou de carregar consigo o sonho de voltar para trás e recuperar a si próprio. O tempo passou, mas 40 anos tornam difícil qualquer ruptura voluntária. 

E quando tudo parecia levar a um desfecho melancólico, surge Paúba, uma surpresa após uma curva da Rio-Santos. No início, uma visita a amigos de amigos. E como as melhoras coisas derivam de eventos não programados, surge o convite e a oportunidade de compartilhar Paúba, compartilhar momentos de mútuo conhecimento e reconhecimento, compartilhar aconchego, paisagens, sabores, sonhos, projetos e, principalmente, o mar.

Ele abraçou a oportunidade como um náufrago a uma boia. Por prazer e por necessidade. Não pensa mais no futuro, os projetos são para hoje ou amanhã; não é preciso postergar. Seu olhar agora repousa no horizonte costeiro, e dele se afasta apenas temporariamente, sem nostalgia; sabe que logo mais estará de volta.

E Paúba surgiu como um pacote completo: além da beleza natural exuberante, a casa no vilarejo, bonita e aconchegante, e aqueles que proporcionaram isso tudo, os novos amigos, queridos desde o primeiro encontro. Paúba é real, mas é também simbólica. Ela representa a concretização de um desejo, a possibilidade de preencher um vazio, de reacender sentimentos adormecidos por tanto tempo. 

E agora seu olhar vaga por horas pelo mar de Paúba, provavelmente pensando se existe uma praia mais bonita do que essa, ou se vai ter o privilégio de estar ali para sempre. E na garupa dos seus sonhos, eis que me vejo planejar vida nova, romper com mesmices e fazer de um vilarejo sossegado, entre mata e mar, um ponto de partida para a realização de velhos desejos.

Assim, para ele e para mim, Paúba é muito mais do que uma paisagem ou um momento; é de fato um presente para nosso presente, uma promessa para nosso futuro.

(17 março 2020)

Anelê Volpe
Enviado por Anelê Volpe em 22/07/2020
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T7013365
Classificação de conteúdo: seguro