A natureza
Andei um pouco pelo pasto e parei sob um pé de manga a fim de descansar um pouco. Estava cheio de flores! O vento soprou e ele conversou comigo, através do farfalhar de suas folhas, gostoso de ouvir. O mês de agosto se aproxima, já anunciando que o vento gosta dele. O ponto onde estava é alto e era possível ver uma imensidão de terras empastadas, até o limite de serras azuladas. Via o Morro do Baú e o Morro do Palhano. O Morro do Baú se parece com uma mesa, e eu pensei que poderia ser a Mesa da Santa Ceia ou um altar. Há algo de sagrado nessa formação rochosa. Porque uma mesa oferece o alimento, serve comida. E o alimento nutre nossas vidas e nos dá a energia que precisamos. Já o Morro do Palhano se parece com a jibóia que engoliu o elefante, de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint- Exupéry. É uma formação muito interessante... E eu me senti tão criança, quanto o Pequeno Príncipe, por enxergar o que ele desenhou lá no horizonte... A jibóia, fazendo sua infinita digestão.
Mas olho pra cima e vejo urubus. Estão se reunindo. Pensei: farão festa. É que a vaca que pariu anteontem, hoje chora por seu bezerro. Coitadinho! Mais tarde, tenho certeza que ouviremos seu mugido lamentoso. E foi o que adivinhei. Ela muge, assanhando o gado, que costuma ruminar a noite, silenciosamente. Está sofrendo as dores da perda. Sinto uma ponta de tristeza por ela. Sinto um dó por causa da mãe e do seu filhote, separados para sempre, pelo vale profundo e tenebroso da morte. A natureza cumpre seu papel, inexoravelmente. Eu a leio.