ABELARDO abriu a janela. Não tinha em sua mente ainda sonolenta planejado o que queria ver além da moça. Sabia que todo dia Mariana passava ali no mesmo horário, exceto domingo. Domingo as coisas tendem a ser diferentes. Mas se a gente não o fizer nada diferente, o domingo vira um dia igual, um dia qualquer. Não adianta avermelhar o número no papel e pendurá-lo na cozinha, na copa, ou em qualquer lugar. Ele não sabia que dia da semana estava começando a vivenciar, pois as horas que a gente dorme não contam. Não contam mesmo, nem os sonhos contam. Mariana não passou, devia ser domingo. Não, não era domingo. Era uma sexta-feira, quase domingo. Mas a moça não passou. Para ela não teria mais dia ou noite. A morte, que na sua miséria carece de sol e de lua, sente fome de gente igual a Mariana.