Perdemos o amanhã
Perdemos o amanhã
Na confluência daquela grande avenida surge o João ninguém, sua aparência é horrorosa, os cabelo há meses por fazer, a barba não foge ao estilo mendigo de ser, a camiseta ou que resta dela insiste agarrar-se ao corpo, a calça, se pode ser assim chamada desfigurada; o espantalho da roça tinha melhor, o calçado às traças, amarrado com arame encontrado no lixo da borracharia vizinha. Olhar cansado, distante, já não tem forças para expressar seu pedido de ajuda. Um cartaz de papel reciclável ainda levanta com braços flácidos e caídos, a duras penas:
“Fome” e nos lábios se o passante tiver coragem de olhar lerá “pelo amor de Deus me ajude”.
Na praça ao lado, no relento, tendo céu como teto, hospeda ele e os seus, que consiste em sua mulher e mais um casal de filhos menores expostos em cobertas sujas, uma mesa ainda ostenta seus pertences; duas canecas, uma marmita descartável e uma garrafa de coca dois litros presente de alguma alma caridosa. A mesa representa o ultimo resquício organizacional humano do tempo em que foi treinado a conviver na sociedade. Ah, ia me esquecendo, entre os pertences ainda tem as máscaras pretas (para torná-los ainda mais invisível nesse período de pandemia) uma para cada um, afinal o João Ninguém e sua família é um grande risco para todos com quem convive.
_Convive com quem, quem esta em contacto com o João Ninguém?
_Quem quer conviver com o João Ninguém?
João ninguém é o herdeiro do pires da humanidade e esta fadado a carregá-lo pela vida afora.
_Quem dera João Ninguém fosse único; reuniríamos algumas almas e resolveria sua vida, ou pelo menos tentaríamos! O problema é muito mais sério do se pensa!
O João Ninguém se multiplica como vírus, a sociedade corre risco de ser extinta em pouco tempo. João Ninguém é a personificação da desigualdade, é a decorrência da avareza do homem. João Ninguém é o conjunto da seletividade da exploração em todos os sentidos execrável do ser. João Ninguém é o resultado do uso privilegiado de bens naturais, sociais, físicos, educacionais, tangíveis e não tangíveis por parte de poucos em detrimento de muitos. O João Ninguém não é mais um indivíduo é um coletivo de famintos, maltrapilhos, esfarrapados, sem teto, doentes e sem Pátria espalhados, que, estão se reunindo e logo formará uma nova sociedade buscando seus direitos, inclusive o de viver, claro é legítimo. O mundo esta se tornado perigoso, e, se a sociedade não olhar para trás e dos lados fazendo a correção necessária dos espaços, deixando que todos sigam o caminho da vida com mais paridade, luz, vida, dignidade; fatalmente caiara no abismo a frente, pois meia volta já não é mais a solução. Persistindo nas trevas da promiscuidade, da avareza, da misantropia o futuro da humanidade é totalmente dantesco.