Cobra de vidro - bviw

Opressão é prima da exclusão. Presenciei uma cena que me fez pensar em práticas opressoras no ensino. Em testes de avaliação escolar, faz-se muita confusão entre expectativa de conhecimento prévio e questões mal elaboradas. Era uma prova de português online (seguindo os novos padrões de ensino servido à base de live, encontro virtual).

Uma das questões era relacionada a um texto de muito bom gosto, de Manoel de Barros. O enunciado cheio de frescuras terminológicas provocava o raciocínio, mas assustava mais que tudo. Um caso sério isso. Veio a seguir a pergunta. Mesmo que o aluno já tivesse lido um carro cheio de livros, não conseguiria responder se não conhecesse cobra de vidro. Esse mero detalhe o conduzia à literalidade. O aluno pensaria em vidro mesmo (assim como gesso, madeira, resina, barro...).

Triste, cena de cinema, ver o aluno suando por não saber nenhuma das respostas, porque o veneno da inofensiva cobra se espalhou por toda a prova. Tudo bem que prova não prova nada. No paraíso da educação nem deveria existir essa angústia cartesiana. Entretanto, se se decidiu por ela, que saibam cobrar, sem oprimir. Afinal, no sistema vigente, um décimo abaixo da escala rígida imposta causa um baita atraso de vida.

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 21/07/2020
Reeditado em 05/09/2020
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