Corinthians X Palmeiras
Atenção: o primeiro parágrafo deste texto contém ironia, muita ironia.
Corinthians e Palmeiras vão se enfrentar novamente. Em clima de paz e democracia. Não sei se isso é o novo normal (antigo anormal) tão propalado durante a pandemia, ou é a futurologia de boteco “tudo vai ficar bem”. E não é que tudo ficou bem! Antes, os grupos antagonistas iam de encontro; agora, aliados, vão ao encontro. O Derby, que já foi motivo de tensão, tornou-se a festa da democracia. “Vai morrer”, “o pau vai quebrar”, essas ameaças ficaram para trás. Agora, eles contemplam a partida, gentilmente, lado a lado. É, praticamente, a paz mundial.
A “lacrolândia”, a imprensa enviesada e a crônica esportiva -que conhece muito bem o intuito e o comportamento das torcidas organizadas- caíram (ou fingiram cair) nessa. Para começar, achar que aquela marcha de facções era realmente “Pela Democracia”, só mesmo quem teve o cérebro liquefeito pelo coronavírus. Houve, também, quem tentou emplacar a narrativa (mentira) de que as máscaras que as facções usavam eram proteção em vez de disfarce. Teve quem falou “os torcedores estão politizados”, e um jornalista esportivo que arriscou, pra ver se colava, relativizando: “eles, até, doam cestas básicas”.
Voltando para o mundo real, vamos deixar de hipocrisia. O embate, confronto, guerra terá o estádio vazio (somente com os retratos dos torcedores). “Normalmente”, o clássico teria torcida única, senão os caras se matariam.
A verdade é que com o tédio, trazido pela quarentena e a consequente interrupção do futebol, as torcidas organizadas, sem ter o que fazer ou quem espancar, resolveram brincar de manifestantes pela democracia. Vendo que isso pegou bem, deu um verniz social - àqueles que apenas eram vistos como arruaceiros- e a imprensa “passou um pano” (fingiu que acreditou), as torcidas capitalizaram as falsas manifestações como uma rara oportunidade de ressignificar sua imagem. Com esse interesse em comum, e a abstinência de jogos e porrada, os torcedores tentaram emplacar a espúria intenção. Apesar da ajuda, não colou.
Quarta-feira a disputa é sem torcida. Assim, é garantida a utopia da “paz nos estádios”. Que vença o melhor, desde que seja o Corinthians.