Futuro do Pretérito
É engraçado como a noção de futuro é parecida quando se é muito jovem ou já se passou bastante dos 50. Em ambos os casos, o futuro se confunde com o destino: não há muito o que possa ser planejado ou feito. No primeiro caso, por falta de (matur)idade; no segundo, por excesso. Crianças e idosos não se preocupam muito com o futuro. Para elas, isso é problema dos pais. Já eles têm uma boa previsão do seu futuro, mas pouco podem fazer para alterá-lo.
Tem sensação mais estranha do que se dar conta de que se está vivendo o futuro? Não se trata de um sonho ou de exercício de ficção científica, mas de perceber que o futuro nada mais é (ou foi) que um conjunto de planos e respectivos resultados que, depois de tanto tempo, tornaram-se o seu presente (desculpe o trocadilho).
Na gramática, passado é pretérito, então vivemos o futuro do pretérito. Gozado como tudo se encaixa: eu faria, tu farias, ele faria. Realmente, podendo voltar atrás, eu faria tudo diferente. Aquilo que não foi bom, mudaria; o que foi bom, faria melhor ainda.
Não sei bem o que sinto pelas pessoas que dizem não se arrependerem de nada, que fariam tudo igual novamente. Ora sinto inveja, ora sinto pena, ora sinto raiva. Será que mentem para se convencer de que são felizes? Será que evitam a compaixão? Será que falam a mais pura verdade? Não é possível não se arrepender. Devem então se orgulhar dos erros e, humildemente, aprender com eles. Que nobreza!
Viver no futuro do pretérito causa sensações estranhas. Primeiro, porque reduz nosso futuro ao presente, o que nem sempre nos faz concluir que realizamos nossos sonhos. Segundo, porque a visão da nossa própria trajetória não é fiel aos grandes feitos e conquistas. É mais fácil que outras pessoas nos vejam como grandes realizadores. Terceiro, porque isso nos remete naturalmente ao futuro do presente, ou seja, ao que ainda vai acontecer. Ora, a essa altura, já não se esperam grandes realizações. O que pode mudar? Não seria para pior? Convenhamos que esses pensamentos não nos deixam muito animados. Finalmente, e não menos assustador, porque viver o futuro nos alonga o passado e nos aniquila o presente, mesmo que se viva ainda muito mais.
(2011)