Seleção Natural

 

 

            Até que ponto pode chegar a estupidez humana? Poderia tanto fazer uma análise geral, citando nosso descaso quanto ao meio-ambiente, a intolerância religiosa, nossos inúmeros e absurdos preconceitos de variadas matizes, quanto abordar itens em particular. Ficarei com a segunda alternativa e traçarei uma leve crônica.

 

            Assistia, ao lado de um parente, forçadamente, a um filme de categoria menor, onde dois sujeitos cometiam idiotices.

 

            - Ninguém pode ser tão idiota, comentou meu primo, quando os dois incautos arrebentaram-se contra um caminhão, ao surfar em pranchas no asfalto.

 

            - Afirmo o contrário, disse-lhe. Existe gente tão idiota, ou até mais, que as personagens da ficção.

 

            Diante do seu assombro, narrei alguns dos casos que testemunhei em uma revista.

 

            Um homem, na Bósnia, logo após o período de conflito, resolveu fabricar fogos de artifício, para comemorar o ano novo, reutilizando a pólvora de granadas que não explodiram. Resultado: os parentes, ao invés de comemorar a passagem do ano, foram ao seu enterro.

 

            Outra notícia digna dos piores membros do gênero humano: um vivaz queria receber o seguro por invalidez. Sueco, e dizem que são mais inteligentes, resolveu amputar a própria mão. Escolheu uma ferramenta que seria rápida e certeira: uma serra elétrica. Além da mão, amputou três membros que se situavam abaixo da linha da cintura, sendo que um deles não tinha a finalidade de locomoção – você entendeu. Para não ouvir as gozações que se seguiriam, tratou de não sobreviver ao “acidente”.

 

            Eram essas apenas notícias que li em uma revista, muito tempo atrás. Caíam quase no total esquecimento quando, ao folhar um jornal de nossa localidade, deparei-me com mais um atentado à boa inteligência.

 

            Um indivíduo de 26 anos, auxiliar de serviços gerais, encontrou uma bala de fuzil do exército em perfeito estado de funcionamento. Resolveu abri-la. Infelizmente a nota não cita o motivo da sua curiosidade; o qual podemos apenas imaginar. Talvez quisesse fazer uma bombinha, para assustar pombos, ou reaproveitar a pólvora para alguma finalidade que só a sua cabeça poderia dizer. Ao tentar abrir o artefato, este explodiu-lhe nas faces. A vítima (apesar de sermos tentados a acreditar no contrário) teve o braço direito arrancado com a força da explosão. Não sobreviveu, à semelhança do sueco, para ouvir as eternas gozações – Deus, muitas das vezes, nos poupa do pior. Promove, em silêncio, uma apurada seleção natural.

 

            E a humanidade, contando a menos três espertalhões, segue sua marcha incerta rumo ao infinito ...