04 | Ano 1 | Nº 2 | JULHO/2015
Scaramouche:
dos ringues às
corridas de rua
Ele fez sucesso nos anos
1960 como lutador cênico
no programa de televisão
Ringue Doze, mas agora, aos 71 anos
de idade, João Neri Satter Mello faz
sucesso também está construindo
um bom retrospecto como corredor
de rua. Nas corridas, não usa mais
a indumentária do Scaramouche,
mas mantém a mesma força e
determinação que o caracterizam.
Participou de 16 corridas em São
Leopoldo, Taquara, Porto Alegre,
Três Coroas, Sapiranga, Novo
Hamburgo, Nova Petropolis e
Campo Bom, em 3, 5 e 7 km. Foi
campeão estadual do SESC em Porto
Alegre, em 2014. Classifi cou-se para
disputar o bicampeonato estadual,
dia 6 de dezembro, em Porto Alegre.
No dia 5 de julho participou da
Corrida Contra o Frio, em Campo
Bom, chegando em 2º lugar na
categoria acima de 70 anos nos 5
km. Já em Taquara, onde participou
da prova de 3 km da 1º Corrida dos
Bombeiros, dia 12, foi campeão na
categoria acima de 65 anos. João
Neri reside em São Leopoldo, onde
realiza trabalhos artesanais e cria
troféus personalizados.
Quem foi o
lutador Scaramouche
Os caminhos percorridos até
se tornar um lutador profi ssional
cênico iniciaram em tempos mais
remotos. Ainda aos oito anos de
idade, quando morava em Passo
Fundo, João Neri Satter Mello,
teve seu primeiro contato com as
artes marciais, treinando judô em
casa com um primo militar. Deu
continuidade aos treinos como
autodidata e, mais tarde, frequentou
aulas em academias, tornando
professor, árbitro e chegou à faixa
preta 4º dan.
Aos 25 anos, quando ainda
trabalhava como caixa geral na
Olivetti do Brasil, começou suas
atuações no programa Ringue Doze,
na TV Gaúcha. “Tudo começou
quando o juiz de cach, chamado
Nilo Rizzo, foi na empresa onde eu
trabalhava para pagar uma duplicata
pela aquisição de uma máquina
de escrever. Reconheci a fi gura do
juiz, e indaguei a respeito das lutas,
pois eu praticava Judô e Ginástica
Olímpica, e acabamos fazendo
amizade. Ele acabou me convidando
para participar dos treinamentos
com os outros atletas de luta. Não
pensei duas vezes. De repente, ali
estava começando a história de
Scaramouche”, relembra João Neri.
Sempre se apresentava com a
característica própria de um lutador
no estilo high fl yer (estilo voador).
A maioria dos lutadores cênicos
era oriunda de algum tipo de luta.
Embora praticasse judô há muito
tempo, as principais características
adotadas por João Neri eram
emprestadas da ginástica olímpica.
Durante as exibições, costumava
usar os saltos mortais, com apoio
nas cordas, para impulsionar-se por
cima do adversário. Além de outras
acrobacias que usava como artifício
no decorrer dos golpes, combinadas
com as técnicas do judô, para manter
as características de um lutador
estilo high fl yer.
Mas a “marca registrada” do
Scaramouche ocorria após o término
das lutas, na saída do ringue.
“Quando eu saia de cima do ringue,
ao término do combate, eu fazia
uma preparação na borda e, com um
salto mortal, ia até o solo com os
braços estendidos. Era o meu show
fi nal e a minha marca registrada, e
por isso eu era o Scaramouche, o
famoso espadachim do romance
de Rafael Sabatini, que tinha estas
características de dar saltos mortais
quando enfrentava seus adversários.
A escolha do nome, feita também pelo
juiz Nilo Rizzo, é uma homenagem
ao verdadeiro Scaramouche do livro
e do fi lme”, destaca.
Adversários/amigos
João Neri lembra de seus
oponentes no ringue de luta cênica
com carinho e admiração. Em três
anos de espetáculo, cultivou muitas
amizades que duram até hoje.
Alguns destes já se foram, mas fi cam
na lembrança como uma grande
amizade.
Os mestres que brilharam junto
com o Scaramouche no Ringuedoze:
Nick Carter, El Cid, Cigano,
Stiner, El Duende, Capanga, Barba
Roja, Dr. Jeckil, Búfalo Bil, El
Condor, Bobby Olson, Vingador,
Giuliano, Leal, La Bestia, El
Montruo, The Tempest, Leopardo,
Super Demon, Jangada, Ringo,
Silva, Moicano, Ted Boy Marino,
Bala de Prata, Verdugo, Fantomas,
Leopardo, Mr. Argentina, Mr.
Chile, Falcão, Sunchi Hinata,
Apolo, Rando, Rudney, Electron,
Diamante Negro, Kindar, King
Kong, Demônio Cubano, Cavaleiro
Vermelho, Cavernari, Gran Caruso,
Romano, Ali Bunani, Sheik, Sansão,
Antonielo, Chaves, Apache, Mamut,
Bucher, Ciclone, Fidelão, Lothar.
João Neri lembra das palavras
do lutador argentino El Condor,
publicadas no Jornal Folha da
Tarde em 1981, para explicar o que
representava a luta cênica, ou luta
de telecatch, da qual fazia parte.
“É um esporte artístico que
praticamente todas as pessoas
levam dentro de si. Ajudamos as
pessoas a largar o seu ódio fora.
O importante sobre o ringue, é que
como na vida real, o sofrimento
pareça autêntico que por instante
nenhum se detecte o fi ngimento, um
acordo, uma simulação. A justiça da
vida se transfi gura sobre o ringue e
a platéia respira aliviada enquanto
volta aos seus lares”.
Ano 1 | Nº 2 | JULHO/2015 | 05
Scaramouche
Filme estadunidense
de 1952, do gênero aventura
histórica de capa e espada, dirigido por
George Sidney. Produção luxuosa da
Metro Goldwyn Mayer baseada em obra
homônima de 1921 de Rafael Sabatini,
que já havia sido fi lmada anteriormente
em 1923, com o ator Ramón Novarro
como protagonista. O roteiro é de
Ronald Millar e George Froeschel. A
trilha sonora original foi composta por
Victor Young.
Na França pré-revolucionária, a rainha
Maria Antonieta pede a seu primo Noel,
marquês de Maynes, que descubra a identidade
de Marcus Brutus, um panfl eteiro que ataca
com seus folhetos a decadente aristocracia.
Logo se descobre que ele é Philippe de
Valmorin, grande amigo do aventureiro André
Moreau. Este tenta ajudá-lo a escapar,
mas não consegue impedir que
Philippe seja morto pelo marquês
em um duelo de fl oretes. Moreau
nada pudera fazer, pois o
marquês era tido então como
o melhor espadachim da França.
Só lhe restou fugir, se escondendo
em uma companhia teatral, sob a
máscara do cômico Scaramouche. Mas
Moreau jurou vingança e se dedicara a
aperfeiçoar sua esgrima a fi m de desafi ar o
marquês para um duelo mortal. Durante sua
busca por vingança, Moreau se apaixona por Aline,
mas julga que esta é sua irmã e se distancia. Aline
é cortejada por Noel, enquanto Moreau começa
sua vingança usando a máscara. No duelo fi nal,
Moreau vence Noel, mas não consegue concretizar
sua vingança e matá-lo... mais tarde, descobre que
este é seu verdadeiro irmão e fi nalmente se casa
com Aline.
Ringue Doze
Programa de televisão dos anos
1960, o Ringue Doze conquistou
índices de audiência impressionantes. A
então TV Gaúcha, Canal 12 (hoje RBS
TV), levava ao ar todos os domingos
um espetáculo de luta livre, realizado
sempre no Ginásio da Brigada Militar.
O programa emocionava públicos
de todas as idades, das crianças aos
adultos. Durou de 1964 a 1969.
No espetáculo distribuíam-se
cutelaços e voadoras, tentava-se
jogar o oponente fora do ringue ou
sua imobilização junto às cordas. O
radialista Éldio Macedo, que comandava
a transmissão das lutas, e o juiz Nilo
Rizzo acabaram por se transformar
em destaques e celebridades. As lutas
aconteciam com dois, quatro ou seis
oponentes.
O tom de seriedade e credibilidade
era garantido pelo narrador Jorge
Alberto Mendes Ribeiro e pelo
comentarista Jorge Aveline, mas o
espetáculo mesmo começava quando
o apresentador Éldio Macedo subia ao
ringue e mobilizava o ginásio com uma
maneira de falar treinada à exaustão.
As lutas obedeciam ao mesmo
roteiro: no início, o lutador bonzinho
apanhava para valer do mauzão,
que não hesitava em aplicar truques
vergonhosos como puxão de cabelo, limão nos olhos ou
uma pilha escondida no punho para potencializar seus
socos. Depois de uma boa sova, o lutador galã reagia e
detonava o vilão, para delírio do público.
Fontes texto e imagens: fi lmaffi nity.com; telecatchbrazil.com;
Wikipédia; e João Neri Satter Mello
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 21/07/2020
Código do texto: T7012216
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