Melhor Viagem Escolar

A melhor viagem escolar que posso me lembrar, aconteceu no primeiro ano do ensino médio. Tive algumas outras, mas não o suficiente para dizer que sou especialista nesse assunto. Mas essa a que me referi foi a que mais me deixou lembranças boas. Não houve nada de especial, a não ser que experimentei algo que acho que nunca tive antes e acho que muito provavelmente não terei de novo. O professor responsável foi o de Geografia e como ainda estávamos no primeiro ano, um dos conteúdos eram os biomas brasileiros e estrangeiros, mas tínhamos mais foco nos nacionais mesmo. Um deles era o mangue. Considerado um dos mais bonitos e interessantes, mas também mais esquecidos, biomas brasileiros, que tem um poder de atração talvez vindo do fato de ser inteiramente repleto de lama devido a sua proximidade do rio ou rios e do mar. Na região metropolitana de Fortaleza há muitos, mas não lembro exatamente a qual fomos, somente que foi a um dos lugares mais bonitos de que tenho memória na minha curta vida. Ainda consigo imaginar a praia onde começamos a excursão e também da segunda onde finalmente a terminamos.

Havia muita lama, sim. Sujamos nossos calções, pernas. Mãos, também. Tínhamos que andar sem chinelas, carregando-as nas mãos e o pior perigo era meter o pé com força em algum toco. As meninas, além de se preocuparem com sua limpeza – não tinham conhecimento, ou ignoravam isso, por não levar a sério, de que a lama é um excelente rejuvenescedor, cosmético e regulador térmico -, também tinham algum medo de encontrar um caranguejo que estivesse mais propenso a atacar seus pés, ou qualquer outro suposto bicho sanguinário.

No meu caso, o que me preocupava mesmo era não estar devidamente vestido para uma ocasião como aquela. Sim, fiz uma gafe inocente em plenos quinze anos de vida, que foi a de não estar preparado para ir a um lugar com a roupa a rigor. A vestimenta ideal para garotas era um short leve e curto e uma camisa leve. Essa também era a recomendação para os meninos, excetuando, é claro, o short, e que deveria ser, no lugar, um calção ou bermuda finos. No dia anterior minha mãe não tinha lavado nenhum calção e por isso tive que ir de bermuda jeans. Claro, fui o único a aparecer com um jeans para caminhar na lama densa e fazer um percurso razoavelmente grande como aquele que exigiu muito das pernas para se manter em movimento. Isso, como pode-se notar, não foi uma grande coisa a se preocupar, mas para o jovem inseguro, imaturo e de baixa autoestima como eu era, foi como ir de palhaço a uma festa de smokings, por exemplo. Foi o que me pareceu e isso manchou um pouco do prazer de estar lá, mas isso não me impediu de aproveitar a maioria dos momentos, como a de ver restos de animais fossilizados encontrados no próprio mangue. Ou de mergulhar no mar debaixo de uma ponte para retirar a terra e o barro que já começavam a se solidificar devido ao calor. Era já tarde, mas sentíamos como se fossemos banhados pelo frescor da manhã.

Depois do banho tiramos fotos com a turma toda reunida, uns em pé, outros com um joelho tocando o chão. O que estava nas nossas costas era vegetação típica do mangue, fina, articulada e alta, como deve ser. O chão já era firme e podíamos sentir saudades, ou não, da lama, ou da areia. Caminhamos mais algum tempo para chegar na segunda praia, por assim dizer. Sentir a areia abaixo dos nossos pés, tão molhada e maleável, caminhando em pequenos grupinhos, ou apenas sozinhos daria um bom poema, mas desistam, sou muito ruim em poesia. Por ora tentem imaginar o que eu os contei e guardem na memória essa experiência. É o que eu tento fazer.

Andoru
Enviado por Andoru em 21/07/2020
Código do texto: T7012176
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