MEU INÍCIO FOI NO BOXE
Cheguei aos 17 anos, estando ainda longe do meu peso ideal. Estava pesando 57 quilos para uma altura de um metro e setenta centímetros. Eu já tinha um corpo bem delineado pelos treinos que mantinha com as praticas de halterofilismo, para manter a minha vida em discordância com os prognósticos dos médicos.  Eu me considerava um inerme se comparado com o meu irmão Walter, o qual tinha uma possante musculatura natural, e foi apelidado pelo meu tio Serafim, de tarzan do Tio Tonico.  “Que era o apelido do meu pai.”
 
 Meu irmão Walter já era boxeador e campeão gaúcho, na modalidade de peso mosca, pois também tinha um peso que lhes permitia lutar nas categorias mais leves. Ainda era imaturo como lutador, mas por ter sido campeão gaúcho, o levaram para disputar o campeonato brasileiro em Belo Horizonte.  Não se classificou, pois os empresários teriam de prepará-lo melhor, e levá-lo numa condição com nível brasileiro. Foi um desestímulo a sua derrota que não estava a costumado, e desistiu da sua carreira.   
 
Eu não tinha força o suficiente, mas ao contrário o meu irmão me vencia na queda de braço, mesmo eu usando meus dois punhos.
 
 Os meus treinamentos e a minha vontade em vencer na vida, faziam com que a dedicação na academia, se tornassem uma total prioridade, para mim era mais importante do que estudar. O Resultado foi que após muitos anos depois, acabasse vencendo o meu irmão no jogo de pulso. Para mim foi uma grande vitória, não no sentido de tê-lo vencido, mas como um marco do progresso por mim atingido. Tudo tem o seu preço, custaram meus estudos e muita dedicação. Mas era o que eu queria, e fiz minha opção.
 
Por influência do meu irmão Walter, ingressei no boxe. Foi por influência, pois não era o que eu realmente queria. Após alguns meses de treino, já tinha uma competição marcada, chamava-se Segundo Cinturão de Prata do RS.  Ás chances eram mínimas. Meu peso eram cinqüenta e sete quilos, peso leve.  No meu peso incluindo eu, éramos três na disputa. Mas um desistiu e o outro, era muito bom, o Alberto Oliveira, que já tinha um certo currículo apesar da pouca idade, era vencedor de alguns lutadores bons da época.   
 
Azar meu, mas tive que encarar aquela difícil luta, como estreante, de três round sem muita maturidade e tempo de treino, mas só assim eu poderia conquistar o vice da minha categoria que já era certo.
 
  Foi o vice mais doído na minha curta carreira no boxe.  Mas ele temia um pouco, pois mesmo os bons temem, apesar de saber que pode vencer. E eu o que poderia pensar a respeito?   
 
O técnico dele instruiu: o Satter “que era eu” é muito forte cuida do braço direito dele, senão pode haver alguma surpresa.  Olha até eu metendo um pouquinho de medo no adversário e no técnico, talvez ele se baseando no meu bíceps que já tinha um desenvolvimento visível.  Que fera!
 
  Mas a minha ”vitória” foi de perder por pontos no final da luta, pois o Alberto queria era mesmo me nocautear, aliás, este é o principal objetivo de quem luta boxe.  Se nocautear o oponente, a luta termina antes do término, e o nocauteador, fica mais inteiro.
 
Segundo o Alberto, eu deixei o nariz dele “meio proeminente” bem marcado, mas o que ele fez comigo, foi me derrubar no início, e me deixando no final da luta, digamos, um molambo.   
 
Terminei a carreira de boxeador, como vice-campeão do II cinturão de prata. Ainda me lembro um dia caminhando na Rua Protásio Alves, em Porto Alegre/RS quando o técnico Zorro, um grande amigo dos boxeadores.  “in memoriam” me chamou e disse-me, eu tenho um presentinho para ti, colocou a mão no bolso da camisa e retirou  uma medalha da minha conquista no boxe. (Demonstrada em foto) Guarde-a. Esta é uma boa recordação da tua luta. Contamos com a tua continuidade. É meu amigo Zorro, obrigado pelas recomendações, eu continuei sim, mas segui outro rumo com o lutador. Não te decepcionei totalmente.   Ainda a tenho esta lembrança, datada de 1961, peso pena. Daquela luta transmitida pela TV em preto e branco.
 
 Hoje com 67 anos revivi aqueles momentos da luta com o Alberto Oliveira. Através da internet, consegui rever o meu antagonista e trocamos cartas, cada um contando da sua vida. Como ele também esta fazendo suas memórias, deve constar a nossa grande luta, sim para mim foi uma grande luta, foi a primeira e ficou para sempre na minha memória. Fiquei te devendo o nocaute.
 
 Foi uma experiência interessante saber como vão a vidas das pessoas que conhecemos há tanto tempo, o que fizeram e como estão atualmente. A maioria dos que se envolve no esporte, estão bem, o Alberto não é diferente, está aposentado da polícia civil, e vivendo em Torres cuidando de sua bela família. Fiquei muito feliz ao receber a sua visita com sua família inclusive o cachorro, que faz parte da mesma. É o meu grande desejo, que a vida lhes reserve o melhor de si para todos vocês.  
 
Tenho ótimas recordações do meu primeiro esporte, do meu início,  dos amigos feitos, de uma época que ficou para trás, mas que começou a minha vida esportiva, como um marco para o que viria acontecer posteriormente em outros esportes.  
 
Ficam aqui registrados in memoriam, os boxeadores que marcaram época no cenário gaúcho, grandes amigos, que me inspirei e estes sim foram alguns dos meus ídolos.
 
Atletas vindos do Cruzeiro, e o famoso, estadinho da Borges.  Zorro, Tarzan Mirim, Meu irmão Walter, Trovão, Caruso, Galvão, Delci Santos, Emílio, inipomocemo. 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 20/07/2020
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