O Rasto de uma Mulher Ferida

Provocada a chorar por uma dor que machuca, ela recusa seus adversários para seguir de cabeça erguida, talvez seja mais uma prova de resistência que a vida lhe sugere, a certeza é que não vai ficar barato.

Não houve um só momento que ela não pensasse no outro e não medisse esforços para ser serviente, plena, mas em oposição a isso, parece que todas as armadilhas do descaso a perseguem prontas para captura-la.

Acostumou-se a olhar para os lados e se assegurar quando dava para colocar a mão no corrimão, pisar primeiro com um dos pés na tentativa de não ser arruinada por um rol de escada traiçoeiro, olhar ao retrovisor e ligar o alerta...

Infelizmente a realidade é que apenas se tenta ser precavido, não se consegue deter todos os golpes, e se sabe que amadurecimento requer experimentos e esses vêm a galope. É praticamente um raciocínio que leva a crer que os conchavos são necessários no processo de maturação.

Mas e o valor dela, de uma sedenta mulher com olhos de águia e garras de tigresa? Essa fêmea que a reverenciam como protetora, curativa, deusa da sensualidade, anjo de paz e sabe-se mais lá o que!

Com todos os questionamentos, ela continua ferida, reduzida a farrapos, revivendo na mente todos seus passos dos primórdios aos dias atuais, na esperança de uma resposta convincente que lhe mostre o caminho e a faça acalmar.

Ela precisa mesmo usar de empoderamento?! Se não estivesse tão na moda, talvez fosse possível ter eficácia, sua propagação quando de forma deturpada tem dado margem a lamentável associação com a descaracterização da autenticidade feminina.

Tudo que essa mulher menos quer é precisar esbravejar, sair na porrada, pintar a cara quase como de palhaço para chamar atenção. Ela apenas quer ser mulher e merecer o respeito que deve ser atribuído a todo ser humano!

Enquanto todo imbróglio não se finda, e isso é muito provável demorar uma eternidade, vai ai um trago do rasto de uma mulher ferida:

As margens da procrastinação, quando a falta de advento de transformação vem lhe causando aflição, não precipita a cura, segue sarando cada princípio lesionado, decidida a não ouvir os estampidos de uma guerra suja de convicções falidas.

Sentinela dos sentimentos mais profundos e incorruptíveis, ela surpreende por não esconder o fracasso, caminha em marcha ainda lenta, porém sem o temor da letalidade que tanto assola os de falta de coragem.

Quando as máscaras caem, e ninguém quer se assumir culpado pelo estado oprimido de uma mulher abatida pela famosa “falta de jeito”, é indescritível a sensação sentida por perceber como ela está refeita, determinada e abastecida de brios.

Assim, faltará para alguns o colo, para outros o olhar gracioso, de tantos restará vaga lembrança e por ninguém, pena. Pois na vida, essa mulher é lapidada por finas navalhas que lhe concede a lição de que nenhum ser humano será digno do seu semelhante, se não o tiver em pé de igualdade.

Pode demorar, mas essa mulher espalhará o seu rasto, que também está carregado de perfumes que exalam naturalmente, e deste modo, compartilhar com quem ela acredita merecer os seus aromas.

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 19/07/2020
Reeditado em 20/07/2020
Código do texto: T7010711
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.