Domingo
Domingo é um dia estranho. "Estranho'' de estranheza que não sei definir. Abra você a janela em qualquer manhã da semana; espie a brisa passar; veja se está acompanhada de ronco de motor ou sirene de polícia; em caso afirmativo, é bom saber, pode ser qualquer dia da semana, inclusive domingo. Eis-nos diante de uma lição dominical: é meio perda de tempo querer definir domingo. Eu sei. Mas, mesmo assim, gostaria de tentar.
Para as Testemunhas de Jeová e adjacências, domingo é dia de visitas e orações, principalmente visitas. Ultimamente, por causa do coronavírus, porém, as visitas estão suspensas e as orações, digitais. Nossa privacidade agradece, descansa; nosso humor alegra-se; domingo acorda, menos chato que de costume. Para os mortos, domingos é dia dos vivos; para os vivos, é dia dos mortos. Domingo é sexta-feira frustrada; é um acordar dormindo; é São João sem São Pedro; é indefinição indefinida.
Vejo, da janela aqui de casa, três gatos tristes subirem ao telhado da casa vizinha para apanhar sol, um sol ainda que morno. Um deles abre um bocejo, outro, deita-se sobre as telhas orvalhadas, o terceiro ignora meu olhar. Todos, assim despidos, tornam-se menos tristes. Todos, assim postos, parecem a tríade do amor: a Divina Trindade Dominical.
Da janela aqui de casa, vejo domingo renascer.