Pequenas histórias 200
Às vezes é como
Às vezes é como uma guitarra que, em solos estridentes, rasga ondas num vai e vem, levando-o de um lado para o outro; outras vezes é como um violino que, em notas de lâmina não afiada, arrasta-o um dia após o outro num traduzir lamentável.
“Decifra-me ou te devoro”, pergunta a esfinge no deserto arenoso da solidão em fria solidificação de cimento e lágrima.
Não tendo como lema a decifração de enigmas, é devorado pelo continuo viver alimentando-se nos estridentes acordes, ora da guitarra, ora do violino.
Vive assim, numa linha frágil que de um momento para outro poderá arrebentar e, sem piedade, o lançará ao abismo profundo e pontiagudo da vida pela vida.
Lança-se sem pestanejar as aventuras do cotidiano sem indagar como deve ou não ir, como deve ou não estar preparado para consequências advindas ao seu proceder.
Não indaga no que deve ou não no que quer.
Já tem o que lhe é suficiente, para que vou querer mais, responde aos que lhe indagam da felicidade.
A felicidade está no olhar as coisas, os objetos, as ações alheias, está dentro dele e não no que poderá ou no que deverá fazer.
Todos os dias beija o ombro nu da carne refazendo-se nos passos em direção a morte de si mesmo.
Reconstrói dessa maneira, o peregrino que há dentro dele desprezando a dualidade.