À Beira do Abismo
(Hélio da Rosa Machado)
Estamos observando com grande decepção a desastrosa atuação de nossos representantes no Poder Legislativo Nacional. O povo vota, os parlamentares assumem o cargo e conduzem a legislatura dentro de alguns parâmetros que não condizem com a verdadeira conduta de quem foi eleito para atender às necessidades públicas.
Assim, a população fica atônita quando vê a mídia divulgar os desmandos de um certo parlamentar (não vale a pena citar o nome), mas contando com uma certa expectativa em ver seus pares resolverem a questão com moralidade e com decência. Mas isso não ocorre... O chamado “rabo preso” não permite que seja tomada uma decisão radical, expurgando o mal pela raiz.
É muito frágil a posição do eleitor neste momento. O cidadão consciente se vê ilhado por duas contingências históricas que lhe posicionam num verdadeiro abismo, posto que se andar um pouco ante o seu modo de analisar as coisas; cai no abismo, mas, caso deseje recuar sabe que encontrará um caminho enlodado com areias movediças que poderá fazer-lhe sucumbir diante de suas convicções voltadas para os conceitos políticos que julga correto.
A história política vivenciada pelo eleitor brasileiro lhe deixa prostrado, sem ação, com muita decepção e porque não dizer com um pouco de rebeldia, ante aos fatos que se desenharam nos últimos anos no cenário político, posto que a lembrança sobre uma esperança remota surgida no passado foi aos poucos se dissipando pela ação passiva de políticos que prometeram fazer uma caminhada em favor do trabalhador, mas andam em passos lentos pelo rumo norte, avançando terrenos abastados pela lógica cruel da política, abandonando àqueles que andam cambaleando num cenário algoz vislumbrado pela luz escura de um túnel sem fim; numa marcha impiedosa acompanhada pelo achatamento dos salários, por perdas indefinidas dos direitos até então adquiridos e pela crueldade do esgotamento dos recursos que hoje são colhidos para satisfazer a máquina e pagar a dívida.
Em época de eleição o cidadão liga seu televisor e vê nos poucos segundos entre o clique e a consciência do que lhe será apresentado, os mesmos personagens que só expressam ficção; dentro de um contexto colhido à luz de todos os percalços existentes nos melindres políticos - seguidos à risca por quase todos eles - com pouquíssimas exceções, em busca de espaços políticos, com mudanças de partidos etc. etc.
O Poder Legislativo cria as leis e não pode ser falso dentro desse objetivo. Mas isso não ocorre na prática, pois a liberdade individual de cada cidadão é aviltada quando começam os chamados “horários políticos”, onde num só instante todos os canais populares são chamados para “programas eleitorais” na tentativa de conduzir o eleitor ao voto.
Aí as promessas começam...!!! Ahh!!!...as promessas!!! Estas são reais... Os doutrinadores poderiam utilizar a conceituação jurídica provinda do “dolus bônus”. Um exemplo de “dolus bônus” é uma propaganda comercial. Atente-se que um comercial mostra todos os aspectos interessantes e atrativos de um produto. Evidente que a propaganda é preparada com inteligência e com muita criatividade, sempre se limitando a falar sobre um fato concreto, porém rodeado de requisitos super-ativos que visam chamar atenção ante a capacidade das pessoas em procurar o melhor para cada um. Assim é a propaganda eleitoral, onde os grandes projetos políticos sempre escondem um detalhe previamente omitido que até pode passar despercebido, mas servirá de elemento para que o político possa se defender caso alguém se lembre de fazer uma cobrança, o que geralmente não ocorre.
Por estas e outras é que o eleitor sempre estará confuso. Por um lado sabe que pode não escolher o candidato que pensa ser o ideal para aquele perfil que considera adequado ao político, no entanto, sabe que essa é a nossa realidade e não pode se omitir, porque pode ser muito pior. Assim, tem de tomar uma posição e assumir uma postura independente dos percalços vivenciados na história política.
Não considero certo o eleitor que anula seu voto ou que não vota em ninguém. Isso é o mesmo que negar a existência de um irmão que não tem boa convivência com a família. O fato é que o irmão existe – é um problema – mas existe. Assim, o irmão não pode simplesmente ser descartado como se não fosse mais da família. Há que se ter uma solução, mesmo que seja há longo prazo, ou que as atitudes que forem tomadas sejam as mais acertadas para o momento, até porque ninguém tem varinha de condão para adivinhar o futuro. Quem sabe o pouco que damos neste momento, pode ser algo grandioso no futuro e venha a beneficiar nossos herdeiros! A omissão é a pior das atitudes. Se o político em certos casos é omisso, nós, os eleitores, jamais podemos ser.