A realidade lhe escapa. No entanto, o mal da vida é o grande blefe. Viveu tempo demais entre conflitos e tentativas de conciliação. Chorou em demasia quando os amigos, velhos, começaram a morrer.
Abriu a porta e veio um ar ralo, esperava ser valorizado quando visto. Foi o que me disse. Sentiu-se semelhante em memória ao amigo morto. Ambos, definitivamente estabelecidos no esquecimento.
Já na saída, em detrimento do esquecimento, encontrou nas performances corporais dos choros exagerados o ponto de vista da hipocrisia. Nos defensores das lágrimas militantes, o traço, dizia ele, ainda mais ausente da verdade. O morto não foi amado em vida. Mas na morte, bem preservado na mentira.
Abriu a carteira, uma nota colada com durex. O número torto foi o mesmo que o levou a debater essas desinportâncias nas questões da vida. Na visão dele, o enterro autodefine o que ele autocensura como uma cultura inútil e hipócrita.