AMOR AOS LOUCOS
Adoro os loucos. Ao fazer esta afirmativa, já antevejo os meus leitores dando dois passos à retaguarda para, em seguida, avançar outros tantos e contestar-me de olhos rútilos e lábios trêmulos:
-Como é que é? Você adora os loucos?
Enfático, respondo que sim, e explico o porquê do meu gostar.
-Os loucos são maravilhosos – explícitos! Andam despreocupadamente – não estão “nem aí” para a vida! Se sentem fome, há sempre uma alma boa a dar-lhes o pão. Se sentem frio, haverá alguém a lhes dar um roto cobertor. Dormir? Ah!... Eles dormem em qualquer lugar, na hora em que Morfeu determinar. E dormem o sono dos justos (são os únicos justos), dos inocentes (são os únicos inocentes), sem sofrerem as consequências do stress cotidiano que tanto nos aflige.
Não têm eles, os loucos, contas a serem pagas. Mesmo porque, “ninguém é louco o bastante para dar crediário ao louco”. Mas, diga-se de passagem, há (como eu e outros tantos tontos milhares de insanos loucos) os que fazem crediário, chafurdando-se em compras e se atolando nos aviltantes juros comerciais (Ou seriam “juros roubalhais?”) dos Cartões de Crédito – 14,5% ao mês. E com o advento dos juros sobre juros: 400% ao ano – ou mais. Ufa!
Loucos não possuem Carta de Motorista (CNH), mas como há motoristas loucos. Loucos não podem votar. Todavia, como somos loucos votando em crápulas, ladrões do erário. Louco não pode ser Presidente de uma nação. Mas como há Presidentes loucos. Loucos, tão loucos que despejam toneladas de “Bombas Inteligentes” (Isso somente cabe na cabeça de um parvo, um idiota da objetividade!) sobre inocentes seres humanos, ceifando vidas, tudo isso em nome de uma utópica paz ou de um tresloucado fanatismo religioso, quando, então, esperam chegar ao paraíso onde há fontes jorrando mel e lindas mulheres virgens. Por que buscar mel e lindas mulheres lá, em um utópico paraíso, se, aqui, há mel e lindas mulheres no mundo da realidade? Alguém – que não seja um louco fanático, claro – poderia explicar-me?
Ah, amigos leitores, não era esse o motivo desta crônica. Não..., não era! Adoro os loucos por serem, eles, autênticos. Fazem aquilo que querem; dizem, sempre, o que quiserem; chutam os baldes dos conceitos e tolos preconceitos para dentro das lixeiras. E é por tudo isso – dentre tantas outras – que amo os loucos com um louco e tresloucado amor de montão!
Recordo-me de um fato ocorrido em Belo Horizonte – mais precisamente na Avenida do Contorno, Bairro Floresta – sob a marquise do prédio onde funcionava um banco, hoje, falido. Morava, então, no edifício ao lado. Era uma tarde de um sábado qualquer. Chovia a cântaros – tudo a que tinha direito. Por sobre a marquise passava um espesso cano que captava as águas pluviais vindas dos telhados, direcionando-as ao solo. Devido a sua espessura e as fortes chuvas que caiam, o jato d’água era grosso e muito forte como se fosse uma cachoeira.
Sob a marquise, a se proteger contra a chuva, estava uma louca – doida, como, normalmente dizem, de jogar pedra em avião! Ao seu lado, um velho saco era o baú onde guardava os seus trens, seus utópicos tesouros. Como amigo e guardião, tinha, também, um pulguento, sujo e – como ela – fedorento vira-latas.
A chuva continuava intermitente. Eu, ansioso, esperava que a mesma se amainasse para, então, adentrar no meu carro. Queria sair bordejando por aí. Queria passear, extasiar-me com o barulho da chuva na fuselagem do carro. Queria ver o bailar estonteante do limpador do para-brisa na sua frenética luta para dar-me uma melhor visibilidade. Isso tudo, claro, mesclado ao som aconchegante de um 3º Ato de Rigoletto, onde há de se destacar os troares estonteantes dos trovões. (Programa de doido, dirão!)
De repente, a Louca da Floresta se põe de pé. Abre o saco de trens e nele remexe os seus trens à cata de determinado trem – buscava algo, um trem para ser usado. Encontra-o. Era um pedaço de sabão. Ato contínuo, ela começa a despir-se.
Agindo com tremenda naturalidade, ela – imaginando-se, talvez, que estivesse numa suíte presidencial do Hotel Ouro Minas – livra-se do vestido e mostra para uma plateia de parvos e tarados (Vamos chamá-los de loucos ensandecidos, vamos?), um corpo maltratado, contudo, ainda bonito, lindo – a se aproximar do belo.
Retira a calcinha (Oh!.. exclamam os, também, loucos da plateia!), dobra-a com zelo e carinho, colocando-a por sobre o já dobrado roto vestido. Sem olhar para ninguém, ela se dirige à ducha das lágrimas celestiais e estas lhe molham os longos cabelos, rosto e todo restante do corpo escultural.
A luxúria dos loucos da plateia faz com que eles babem, esfreguem as lúdicas mãos. A mão da Louca – segurando o sabão – o faz passear pelos cabelos, rosto, ombros e seios. Passa, também, pelas nádegas e por toda a região pubiana. Os pelos da vulva – levados, talvez, pelo frio da gélida água – se ouriçam fazendo a espuma aumentar a sua densidade, levando a louca (Louca?) plateia ao delírio; à loucura dos inimagináveis delírios; a suspirar e imaginar coisas impublicáveis – coisas de loucos... trem de doido!
A Louca da Floresta está impassível. Todos a viam. Ela, todavia nada via e, se via: “não estava nem aí!” Não pressentia nada, nem mesmo a presença da louca plateia. Para ela, éramos um bando de loucos sem ter o que fazer.
E é neste ponto que está a minha admiração, respeito e amor pelos loucos. O mundo é deles, nós é quem somos os invasores. E no mundo deles não há ódio, guerras e posses, conceitos ou mesmo os nossos tolos e parvos preconceitos. No mundo deles tudo pode ser feito. No mundo em que vivem, só há lugar para o amor. Assim pensando, chego à óbvia conclusão:
-Ah!... como gostaria que me fizessem uma lobotomia, pois – e em assim sendo – poderia chutar as mazelas da cotidiana e insípida vida. Poderia ser feliz como são os loucos. Poderia rir... sorrir e ressorrir dos loucos que somos todos nós por não assumirmos as próprias loucuras cometidas!
É triste e lamentável admitir os nossos homéricos medos de nos tornarmos loucos.
Temos medos incontroláveis de sermos felizes com as nossas loucuras!
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Adoro os loucos. Ao fazer esta afirmativa, já antevejo os meus leitores dando dois passos à retaguarda para, em seguida, avançar outros tantos e contestar-me de olhos rútilos e lábios trêmulos:
-Como é que é? Você adora os loucos?
Enfático, respondo que sim, e explico o porquê do meu gostar.
-Os loucos são maravilhosos – explícitos! Andam despreocupadamente – não estão “nem aí” para a vida! Se sentem fome, há sempre uma alma boa a dar-lhes o pão. Se sentem frio, haverá alguém a lhes dar um roto cobertor. Dormir? Ah!... Eles dormem em qualquer lugar, na hora em que Morfeu determinar. E dormem o sono dos justos (são os únicos justos), dos inocentes (são os únicos inocentes), sem sofrerem as consequências do stress cotidiano que tanto nos aflige.
Não têm eles, os loucos, contas a serem pagas. Mesmo porque, “ninguém é louco o bastante para dar crediário ao louco”. Mas, diga-se de passagem, há (como eu e outros tantos tontos milhares de insanos loucos) os que fazem crediário, chafurdando-se em compras e se atolando nos aviltantes juros comerciais (Ou seriam “juros roubalhais?”) dos Cartões de Crédito – 14,5% ao mês. E com o advento dos juros sobre juros: 400% ao ano – ou mais. Ufa!
Loucos não possuem Carta de Motorista (CNH), mas como há motoristas loucos. Loucos não podem votar. Todavia, como somos loucos votando em crápulas, ladrões do erário. Louco não pode ser Presidente de uma nação. Mas como há Presidentes loucos. Loucos, tão loucos que despejam toneladas de “Bombas Inteligentes” (Isso somente cabe na cabeça de um parvo, um idiota da objetividade!) sobre inocentes seres humanos, ceifando vidas, tudo isso em nome de uma utópica paz ou de um tresloucado fanatismo religioso, quando, então, esperam chegar ao paraíso onde há fontes jorrando mel e lindas mulheres virgens. Por que buscar mel e lindas mulheres lá, em um utópico paraíso, se, aqui, há mel e lindas mulheres no mundo da realidade? Alguém – que não seja um louco fanático, claro – poderia explicar-me?
Ah, amigos leitores, não era esse o motivo desta crônica. Não..., não era! Adoro os loucos por serem, eles, autênticos. Fazem aquilo que querem; dizem, sempre, o que quiserem; chutam os baldes dos conceitos e tolos preconceitos para dentro das lixeiras. E é por tudo isso – dentre tantas outras – que amo os loucos com um louco e tresloucado amor de montão!
Recordo-me de um fato ocorrido em Belo Horizonte – mais precisamente na Avenida do Contorno, Bairro Floresta – sob a marquise do prédio onde funcionava um banco, hoje, falido. Morava, então, no edifício ao lado. Era uma tarde de um sábado qualquer. Chovia a cântaros – tudo a que tinha direito. Por sobre a marquise passava um espesso cano que captava as águas pluviais vindas dos telhados, direcionando-as ao solo. Devido a sua espessura e as fortes chuvas que caiam, o jato d’água era grosso e muito forte como se fosse uma cachoeira.
Sob a marquise, a se proteger contra a chuva, estava uma louca – doida, como, normalmente dizem, de jogar pedra em avião! Ao seu lado, um velho saco era o baú onde guardava os seus trens, seus utópicos tesouros. Como amigo e guardião, tinha, também, um pulguento, sujo e – como ela – fedorento vira-latas.
A chuva continuava intermitente. Eu, ansioso, esperava que a mesma se amainasse para, então, adentrar no meu carro. Queria sair bordejando por aí. Queria passear, extasiar-me com o barulho da chuva na fuselagem do carro. Queria ver o bailar estonteante do limpador do para-brisa na sua frenética luta para dar-me uma melhor visibilidade. Isso tudo, claro, mesclado ao som aconchegante de um 3º Ato de Rigoletto, onde há de se destacar os troares estonteantes dos trovões. (Programa de doido, dirão!)
De repente, a Louca da Floresta se põe de pé. Abre o saco de trens e nele remexe os seus trens à cata de determinado trem – buscava algo, um trem para ser usado. Encontra-o. Era um pedaço de sabão. Ato contínuo, ela começa a despir-se.
Agindo com tremenda naturalidade, ela – imaginando-se, talvez, que estivesse numa suíte presidencial do Hotel Ouro Minas – livra-se do vestido e mostra para uma plateia de parvos e tarados (Vamos chamá-los de loucos ensandecidos, vamos?), um corpo maltratado, contudo, ainda bonito, lindo – a se aproximar do belo.
Retira a calcinha (Oh!.. exclamam os, também, loucos da plateia!), dobra-a com zelo e carinho, colocando-a por sobre o já dobrado roto vestido. Sem olhar para ninguém, ela se dirige à ducha das lágrimas celestiais e estas lhe molham os longos cabelos, rosto e todo restante do corpo escultural.
A luxúria dos loucos da plateia faz com que eles babem, esfreguem as lúdicas mãos. A mão da Louca – segurando o sabão – o faz passear pelos cabelos, rosto, ombros e seios. Passa, também, pelas nádegas e por toda a região pubiana. Os pelos da vulva – levados, talvez, pelo frio da gélida água – se ouriçam fazendo a espuma aumentar a sua densidade, levando a louca (Louca?) plateia ao delírio; à loucura dos inimagináveis delírios; a suspirar e imaginar coisas impublicáveis – coisas de loucos... trem de doido!
A Louca da Floresta está impassível. Todos a viam. Ela, todavia nada via e, se via: “não estava nem aí!” Não pressentia nada, nem mesmo a presença da louca plateia. Para ela, éramos um bando de loucos sem ter o que fazer.
E é neste ponto que está a minha admiração, respeito e amor pelos loucos. O mundo é deles, nós é quem somos os invasores. E no mundo deles não há ódio, guerras e posses, conceitos ou mesmo os nossos tolos e parvos preconceitos. No mundo deles tudo pode ser feito. No mundo em que vivem, só há lugar para o amor. Assim pensando, chego à óbvia conclusão:
-Ah!... como gostaria que me fizessem uma lobotomia, pois – e em assim sendo – poderia chutar as mazelas da cotidiana e insípida vida. Poderia ser feliz como são os loucos. Poderia rir... sorrir e ressorrir dos loucos que somos todos nós por não assumirmos as próprias loucuras cometidas!
É triste e lamentável admitir os nossos homéricos medos de nos tornarmos loucos.
Temos medos incontroláveis de sermos felizes com as nossas loucuras!
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