“A cor não importa mais”
Voltavam juntos da escola. Ambos tinham quinze anos, eram vizinhos e amigos de infância.
— Você é a pessoa certa pra ela – disse Maria. — Por que ela não vê isso?!
— Acho que ela me deu um fora porque sou preto – disse João.
— Que nada – discordou Maria. — Deve ter sido por outro motivo.
— E como pode afirmar isso?
— Hoje em dia a cor não importa mais. Todo mundo é igual, mano, desencana!
Dali a alguns instantes uma correria se estabeleceu na rua e tiros foram ouvidos. De repente, saídos não se sabe de onde, três viaturas da polícia abordaram os colegas e fizeram um cordão de isolamento em volta do corpo estendido no chão.
— Somos estudantes! – gritou a adolescente, já com as mãos para cima. — Ele só estava indo pra casa! – gritava Maria, sem querer acreditar que o sangue aspergido em sua pele alva era de João.
— Não é ele! – disse alguém do outro lado do rádio.
Horas depois a Secretaria de Segurança Pública expediu uma nota explicando que o adolescente foi confundido com alguém que havia cometido um crime ali perto. Os policiais informaram que havia forte semelhança física entre a vítima e o criminoso e que, por isso, no meio da confusão, alvejaram a pessoa errada.