Como professor estou terminando mais um semestre. Nunca é fácil, mas este, em que fomos pegos de surpresa por esta pandemia do coronavírus, certamente, será experiência única. Embora no Brasil as incertezas nos visite já algum tempo, recebemos que esse problema sanitário um "plus" a mais de incertezas. Não é s'a questão do emprego ou as instabilidades políticas, mas agora a própria vida. Do momento que escrevo esse texto, o Brasil já soma 75 mil mortes. Junto a tudo isso, vivemos a tentativa de um retorno lento e, de um processo de crise econômica que parece não querer ir embora tão cedo.
Não me atrevo a fazer análises sobre o real - tendo em vista ser sempre maior que a realidade - acho que não caberia aqui. Portanto, falo um pouco dos poucos passos que posso dou, neste momento de isolamento social. Hoje, por exemplo, tive que ir até o centro do Recife, para resolver algumas questões burocráticas. As pessoas de máscaras dão o tom de um novo normal. Das poucas lojas do comércio abertas, não se via clientes. Os que transitavam, pareciam de fato, circular para resolver algo de necessidade, do contrário estariam em casa. Quase não havia ambulantes e um estranho silêncio na cidade. Barulho apenas de carros e ônibus. Isso me chamou atenção. Senti a cidade cansada, abatida por um cotidiano diferente.
Quando iniciei em término de semestre foi porque lembrei de momentos anteriores no qual o fim é momento para recomeçar outro. Um semestre estranho, ou melhor, um ano que tem sido estranho. Sem rostos, sem muito debates, algumas vezes monólogos. Foi o que deu pra fazer. Particularmente, busquei fazer o melhor. Senti que os alunos que assistiram essas aulas remotas, também, fizeram seu melhor. Chegamos ao fim, mais ou menos, como vi hoje no centro da cidade. Caminhamos porque temos algo a resolver. Nisso não há nada de negativo. Significa, apenas, que estamos diante de uma realidade que precisamos seguir. Ainda sem saber muito bem como, mas seguir.
Bom! Tudo isso é que passamos, mas agora, o que teremos? Fato que nosso sistema econômico está parado. O mundo está em um período de paralisia. Nosso modelo de organização social e econômica é baseado no modelo de produção industrial, mesmo em locais que não há indústria, ou mesmo que atividade não seja fabril, o trabalho é desenhado sobre este mesmo modelo, em especial a venda de serviços em geral. Paramos e estamos desesperados pela volta de tudo.
Para terminar esta breve reflexão volto ao título dessas anotações "O fim ou apenas o começo". Já li em editoriais e assisti em debates que podemos entrar em um novo período da história. Acredito que antes da pandemia já estávamos neste início de um novo tempo histórico. A emergência sobre novas perspectivas de mundo não é algo novo e, nem um fato que acontece de tempos em tempos. Isso é permanente, a diferença é que em alguns momentos isso tende acontecer com mais velocidade. Creio que esse momento as coisas mudam, mas nem tanto. Não acredito que seremos melhores, nem muito menos piores, porém, temos que está atentos ao que a natureza está nos avisando. Apesar de todos os avanços das ciências, somos ainda seres que têm uma natureza e está inserido na natureza. Por mais que tentemos controlar há sempre o efeito do inesperado e de coisas que nossas inteligências levam um tempo a resolver.
Acredito que pensar sobre uma nova condição de nossas existências e de modelos alternativos ao que tínhamos, enquanto organização do mundo social (incluo a economia e a política aqui) é fundamental. Não estou falando de socialismo, nem muito menos de capitalismo sustentável, mas de algo muito maior que essas ficções. A nossa própria existência deve ser pautada, sim, daquilo que pretendemos para nós (o eu) e o mundo.
Queremos uma volta. Vejo muitos gritando por uma volta das atividades sociais e econômicas, porém, não acredito que será como antes, mesmo com a esperada vacina. A humanidade tomou um impacto de suas próprias limitações. Ou melhor, cada sujeito em sua casa tomou impacto de sua própria existência. Não dá pra saber se isto é bom ou ruim, mas certamente, o modo como vamos retomar deve nos levar a perguntar se afinal estamos no fim ou em novo começo.
Não tenho uma resposta formada à questão, porém, uma clara percepção que algo aconteceu e, certamente, mexeu com todos, alguns de modo mais impactante. Como numa guerra não há aquele em sã consciência, que não tenha ouvido o barulho das bombas seguidas de um longo silêncio, não se espante o que vê. Sente-se o vazio. Vazio das ruas, vazio do que poderia ter sido vivido. Não podemos voltar na correria de um tempo que correr para o nada. Se é começo ou fim, precisamos repensar o tempo que se finda e recomeça a todo instante. Acredito que isto seja o mínimo para este momento, que não está sendo fácil, mas como em outros momentos históricos vamos superá-lo.
Jorge Alexandro Barbosa
Enviado por Jorge Alexandro Barbosa em 15/07/2020
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