VIDA DE PROFESSOR (V)
 
Por causa dos problemas epidemiológicos vividos pela população brasileira e pelo resto do mundo, as aulas presenciais de todas as escolas, aqui no Brasil, foram suspensas temporariamente, passando-as, consequentemente, para a modalidade virtual.
Por se tratar de um país com características regionais e socioeconômicas dispares, nem todos os alunos têm um celular conectado à internet, muito menos um tablet ou um notebook para poder manter contato diário, regularmente, com seus professores e, assim, poder assistir, diariamente, às suas aulas virtuais.
Juquinha, um aluno aplicado por excelência que o é, quer continuar estudando para não repetir de ano/série, que seria uma grande injustiça, mas faz parte desse grupo de alunos desassistidos pela tecnologia cibernética e de telefonia celular de sua região. Mora em um sítio, afastado do núcleo urbano, e lá não há uma antena capaz de captar os sinais, via satélite, da operadora de seu celular e ainda não dispõe dos sinais de Internet, necessários para poder assistir às suas aulas.
Por isso, todos os dias, no horário de suas aulas, ele apanha seu frasco de álcool em gel, coloca sua máscara no rosto, monta no seu cavalo baio e vai à casa do seu primo que mora na área urbana onde a tecnologia cibernética e de telefonia celular já conseguiu chegar.
A avó dele, alheia às mudanças de hábitos escolares repentinas e necessárias, preocupada com a ida diária de seu neto, para ir assistir às suas aulas numa escola que não é a dele, quis saber:
- Por que razão Juquinha tem de ir à cidade todos os dias, montado a cavalo, dizendo que está indo estudar, se antes ele nunca precisou fazer isso, uma vez que sua escola fica a menos de trezentos metros de sua casa e essa escola permanece fechada?
Juquinha ficou meio atônito com as indagações de sua avó e até que tentou informá-la que os tempos mudaram e que as aulas presenciais, forçosamente, por causa da pandemia, viraram aulas virtuais, mas ela não quis saber e disparou:
- Isso é tudo enrolação! No meu tempo, o aluno tinha que ir à escola todos os dias, chovesse ou fizesse sol e não tinha que ficar falando com seu professor de longe, por um telefone sem fio. Tinha de cumprimentá-lo, apertando a mão dele e coitado daquele que assim não o fizesse.
Por fim, Juquinha quis explicar para sua vó que os tempos realmente mudaram e que, independente dos problemas epidemiológicos causados pela Covid-19, as aulas virtuais têm sido uma realidade do mundo moderno, mas ela, mais uma vez, não quis saber e, de pronto, respondeu:
- Garoto, você ainda não me convenceu. No meu tempo, o professor tinha de ir para a escola e em chegando lá, tinha de conferir a frequência de seus alunos e dar suas aulas diárias, se ele quisesse receber seu salário no fim do mês. Essa coisa de o professor dar suas aulas, todos os dias, sem ver o rosto do seu aluno e depois ter de dar notas para ele e ainda passá-lo de ano, isso é, no mínimo, algo muito estranho – e prosseguiu com mais argumentações:
- Outrossim, eu não entendo o motivo de, nesse mundo moderno de vocês, os professores ficarem falando uns com os outros e da mesma forma com os seus alunos, por um telefone celular, o tempo todo com ele encostado ao ouvido, ou por meio de uma coisa que vocês chamam de “viva voz”, sem que, em nenhum momento, um consiga tocar o outro, e você ainda vem me dizer que, nesse seu mundo moderno, isso é uma atitude corriqueira de uma pessoa normal.
Tenha santa paciência! – desabafou.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 14/07/2020
Reeditado em 14/07/2020
Código do texto: T7005815
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