Escrevi uma carta pra mim. Não era uma carta de amor, até porque tenho a insípida mania de enumerar amores em ordem e certamente não estaria no pódio. Tudo bem que o “narcisismo” não seja saudável, mas nesse caso, a experiência foi válida. Comecei cumprimentando conforme minha expectativa: era fã de informalidade, disse: Oi, espero que esteja bem. E indo direto ao assunto falei da saudade que sentia daquela pessoa que era, da leveza com que levava a vida, da forma simples como enxergava as coisas e de preferências. Disse que compreendia o distanciamento e que a ideia de se ler no outro, ou vice-versa, causava pânico. Aproveitei para liberar o perdão por cada bola rolada e os gols contra no campeonato da “life”, jogador nenhum gostaria de passar por esse constrangimento. Mas, enfim, quem nunca viveu seus conflitos internos seria incapaz de reconhecer o caos e seus renascimentos. Perguntei se estava feliz. Se tinha conseguido realizar sonhos ou se tornado refém das intimidadoras expectativas alheias, a ponto de não saber o que lhe fadigava ou lhe contraia a musculatura da face. Perguntei sobre amores e concepções desastrosas que pairavam como nuvens cinzentas sobre a sua mente, antes das tempestades caírem e causarem abalos tão fortes quanto os sísmicos de grande magnitude. Terminei dizendo que manteria esse contato direto, na tentativa de resgatar os laços que trazia ou arrebentá-los de vez. Salvei na pasta "Evoluir" e anexei umas fotos antigas. De hoje em diante me lerei com outros olhos...