Cresci com a ideia de que todos os animais são meus amigos.
Quando pequena, entregue a mim mesma, tudo despertava a minha curiosidade, principalmente as rãs da fonte, os alfaiates, caminhando sobre a água pura e fria com as delicadas patinhas, as aranhas que espreitavam dos buracos quando eu as chamava movendo um pauzinho à entrada das suas tocas, as lagartixas que corriam como doidas, os coelhos, as galinhas, menos o peru imenso da minha bisavó, que me fazia correr de medo, com as asas abertas.
No entanto, tinha um desamor profundo pelas cobras.
Quando subia a vereda, se a houvesse, por entre pedregulhos, lá estavam elas, refastelas ao sol, sem ao menos repararem que alguém se aproximava, o menos possível, de suas altezas. Muito baixinho, falava com Deus:
- Deus do Céu, todos os animais fazem falta na Terra, mas as serpentes, que fazem elas?!
Porque as terás criado, Jesus?!
Bravia e solta, nada percebia das Trindades. Os deuses estavam no céu, atrás das nuvens, fosse Verão ou inverno. Sentavam-se sorrindo, felizes de verem as flores e a erva.
Com eles, estava minha mãe, todos olhando por mim.
Certa vez pensei ter visto o diabo!
Era a cabeça de um pássaro, muito empertigado, que surgia atrás do muro do chão de sobro do Tio Zé Joaquim. com o grande penacho eriçado, olhando-me maldosamente de lado!
Corri, corri, corri…
Fui-me refugiar junto ao relicário que eu montara, num nicho à esquerda da sala, onde ninguém reparava.
Rezei, rezei, rezei!
Escutava as poupas, os cucos e muitos outros escondidos nas copas altas dos sobreiros. Era uma alegria! Imaginava que todos os cantinhos do mundo fossem cheios de chilreios como os que escutava ali.
Era uma catedral de sombras, nos dias tórridos.
Era uma paz imensa quando a noite vinha e o luar brilhava.
Sentava-me à porta a olhar as estrelas, medindo as suas estradas pelos ramos da sobreira e da acácia de cujas alvíssimas pétalas se faziam pastéis.
No meu dia-a-dia, contava o tempo pelo dia e pela noite, sobretudo sobre o rodar das estações.
Longe ficavam os tormentos, o futuro incerto, a hora de comer e de dormir.
Havia frutas de todas as espécies, coleccionadas pela minha avó. Eu subia às figueiras, colhia as lindas peras, uvas e maçãs. Fazia saladas com os legumes fresquinhos que trazia da horta.
Raramente sentia fome, seguia o rumo da Natureza.
Quando pequena, entregue a mim mesma, tudo despertava a minha curiosidade, principalmente as rãs da fonte, os alfaiates, caminhando sobre a água pura e fria com as delicadas patinhas, as aranhas que espreitavam dos buracos quando eu as chamava movendo um pauzinho à entrada das suas tocas, as lagartixas que corriam como doidas, os coelhos, as galinhas, menos o peru imenso da minha bisavó, que me fazia correr de medo, com as asas abertas.
No entanto, tinha um desamor profundo pelas cobras.
Quando subia a vereda, se a houvesse, por entre pedregulhos, lá estavam elas, refastelas ao sol, sem ao menos repararem que alguém se aproximava, o menos possível, de suas altezas. Muito baixinho, falava com Deus:
- Deus do Céu, todos os animais fazem falta na Terra, mas as serpentes, que fazem elas?!
Porque as terás criado, Jesus?!
Bravia e solta, nada percebia das Trindades. Os deuses estavam no céu, atrás das nuvens, fosse Verão ou inverno. Sentavam-se sorrindo, felizes de verem as flores e a erva.
Com eles, estava minha mãe, todos olhando por mim.
Certa vez pensei ter visto o diabo!
Era a cabeça de um pássaro, muito empertigado, que surgia atrás do muro do chão de sobro do Tio Zé Joaquim. com o grande penacho eriçado, olhando-me maldosamente de lado!
Corri, corri, corri…
Fui-me refugiar junto ao relicário que eu montara, num nicho à esquerda da sala, onde ninguém reparava.
Rezei, rezei, rezei!
Escutava as poupas, os cucos e muitos outros escondidos nas copas altas dos sobreiros. Era uma alegria! Imaginava que todos os cantinhos do mundo fossem cheios de chilreios como os que escutava ali.
Era uma catedral de sombras, nos dias tórridos.
Era uma paz imensa quando a noite vinha e o luar brilhava.
Sentava-me à porta a olhar as estrelas, medindo as suas estradas pelos ramos da sobreira e da acácia de cujas alvíssimas pétalas se faziam pastéis.
No meu dia-a-dia, contava o tempo pelo dia e pela noite, sobretudo sobre o rodar das estações.
Longe ficavam os tormentos, o futuro incerto, a hora de comer e de dormir.
Havia frutas de todas as espécies, coleccionadas pela minha avó. Eu subia às figueiras, colhia as lindas peras, uvas e maçãs. Fazia saladas com os legumes fresquinhos que trazia da horta.
Raramente sentia fome, seguia o rumo da Natureza.