FOI COM MINHA AVÓ QUE APRENDI
Acredito que engatinhei e dei meus primeiros passos, em volta de um quintal imenso, com direito a pomar, horta e jardim.
Desde a minha meninice, lembro-me de acompanhar minha avó, na faina diária da terra. Ela revolvia os canteiros, preparando-os para neles deitar as sementes, em covas rasas, e por último as cobria com terra peneirada, havia tanto carinho, nos gestos de minha avó, quanto nas mãos amorosas de uma mãe, que cobre o filho em seu leito.
O encantamento dela, pela natureza era tanto, que com certeza, contagiou-me. Eu via uma alegria indescritível toda vez, que ela percebia que uma semente conseguia vencer a escuridão da terra, e nascia para a luz do sol.
Sem dúvida ela colocava a alma nas pontas dos dedos, quando o assunto era: cuidar da terra.
Por todo esse legado de amor explícito dedicado à mãe natureza, que assisti desde a minha mais tenra infância, eu reluto em viver em um apartamento. Mesmo tendo percorrido quase sete decadas de vida, há algum tempo, encarei a construção de uma casa, mais adequada a minha idade e a do meu marido. E, não optamos pelo mais fácil, que seria comprar um apartamento, e não vivenciar todo trabalho que uma obra traz. Entretando, ficamos com a satisfação de edificar nossa morada, ver o o alicerce solido sendo implantado, as paredes se erguendo, os comodos tomando forma. Ah, isso nos proporcionou muita alegria ao coração.
A primeira coisa que disse a arquiteta que nos ajudou a idealizar o projeto da nossa residência, foi onde eu gostaria que a minha futura horta, e pequeno pomar ficassem.
E assim foi, hoje após três anos, que aqui chegamos, a horta e o pequeno pomar, estão produzindo a todo vapor.
Claro que para tanto, o pomar contou com árvores frutiferas trazidas do meu antigo endereço. Jabuticabeiras, pitangueiras, mexiriqueiras, goiabeiras e bananeiras, já adultas, estão carregadas de frutos.
Esse pomar, é a festa de dezenas e dezenas de aves, desde Tucanos, Maritacas, Bem-te-vis, Sanhaços, Pica-paus, até famílias inteiras de Jacus, vem se banquetear nas inúmeras arvores frutíferas, que temos aqui. Eles alegram o meu dia, e depois de se fartarem, com a refeição que encontram, eles agradecem, com seus cantos maravilhosos.
A horta, comecei do zero, e como a ideia é ter verduras, legumes, e ervas aromáticas, totalmente orgânicas, logo me vi às voltas com as formigas, que adoraram em especial, as folhas de tomilho, orégano e manjericão, (engraçado que não mexeram na hortelã, melissa e alecrim) já os pulgões, preferiram as folhas da couve.
Cesar o jardineiro que me acompanha há treze anos, logo me disse: "ah, dona Helena, vou trazer um veneno para as formigas, que funciona assim: elas carregam o granulado pra dentro do formigueiro, e lá morrem".
Rapidamente, declinei da oferta dele, me imaginei no lugar das laboriosas formiguinhas, e disse: Cesar, eu vou tentar um método que cansei de ver minha vó fazer uso, que é o pó de café usado.
Ele sorriu, como sempre muito educado, mas, vi naquele sorriso, sua incredulidade.
Realmente dava pena ver os antes viçosos pés de couve e têmperos, agora quase que totalmente arruinados, pelo trabalho incánsavel dos pequenos insetos.
Porém, coloquei em prática o método antigo de minha vó.
Toda manhã, após o desjejum, eu pegava a borra de café, e espalhava pelos pés e folhas de couve, e pelos pés de têmperos.
O resultado, nem eu mesma acreditei, em pouco tempo, a folhas de couve começaram a crescer novamente, verdes e fortes, e as ervas aromáticas, voltaram a mostrar as folhinhas em seus galhos.
Quanto as formigas e os pulgões, não vi mais nem o rastro.
Quanto vale a experiência dos mais antigos. Quanto vale ter tido o privilégio de viver uma infância saudável, longe da tecnologia, e pertinho da natureza.
Dona Carmela sabia como ninguém lidar com as plantas, e elas respondiam à ela, produzindo fartas colheitas de verduras e frutas, e belas floradas no jardim. Devo a minha inesquecível avó, o amor pelo cultivo da terra.
Na vida o que aprendemos de bom e útil, nos serve em qualquer idade.