Confiança
Era um furgão, não muito grande, e passava toda semana perto de minha casa. Era muito bem fechado. A razão para isso era que ele levava uma carga muito preciosa. Outro dia eu estava parado, pensando, e ele passou de novo, bem na minha frente, pelo menos na minha imaginação. Era de um azul escuro e tinha um logotipo oval nos dois lados e atrás.
Fiquei me lembrando das coisas que havia lá dentro. Eu conhecia muito bem cada item que ele carregava. Havia tijolinhos bem pequenos, muito bem embrulhados, de doce de banana com açúcar cristal por cima. Havia outros tijolinhos: de paçoca, de marmelada, de doce de banana e outros tantos . Havia a maria-mole, a cocada branca e a cocada preta, a pipoca doce, os dadinhos e o doce de abóbora, duro por fora, mole por dentro. Os canudinhos, mas não são esses que você está imaginando: os nossos eram cheios de doce. Além dos suspiros de amor, havia a guloseima chamada “suspiro”. Havia aquela geleia multicolorida e mais dura do que a que a gente faz em casa. Balas, quantas balas. Havia as moles, as duras, as com recheio de um líquido grosso e saboroso. O motorista parava nas “vendas” para distribuir o valioso produto. Item obrigatório. Era uma mercadoria que não podia faltar.
Sempre que ganhávamos um trocado, corríamos para a venda mais próxima e nos deliciávamos. Nunca ninguém falava em diabete ou gordura, ou muito açúcar no sangue. Comíamos sem culpa, sem gula.
O nome que vinha escrito nos furgões era “Confiança”. Naquela época esse nome não era só a marca do doce, era a marca de tudo, uma marca registrada em nossas vidas. Era a marca dos adultos e dos pequenos e dos mais velhos. Era o que regia nossas vidas: confiança.