TEATRO DA VIDA.
Manhã de Domingo. Dia esse de intranquilidade, de incertezas, para alguns, de bebedeiras e churrascos para outros, música de todos os tipos no último volume. Sou neste imenso universo um cisco quase invisível, escondido em uma pequena sala retangular, fria sempre, por vezes, figurando à frente de um balcão de anônimos apressados, um nada no meio de tudo, mas, esse tudo não representa nada para mim.
Manhã de segunda-feira. Dia esse de descanso, de dormir até tarde, de colocar em dia minhas leituras, meus escritos, minha literatura de fim de semana. Dia esse que deveria de ser mais longo, porém, é curto. Sou este ser desqualificado que deseja não mais desejar, vasto mundo de vontades falsas e vazios eternos.
Manhã de terça-feira. Dia esse de retorno ao trabalho, de suplício, o ato de madrugar sempre, de enfrentar o frio que machuca a carne e ver as mesmas faces, e, infelizmente, de ser visto. Enquanto isso, à minha alma se esconde na caixa de ossos que sustenta minha carne, já o coração, bate em descompasso.
Manhã de quarta-feira. Dia esse indigesto, mais do mesmo que se repete… Acordar cedo com dificuldade, café, caminhada, trabalho, interminável ciclo de tristeza e ódio, de querer e deixar de querer, de ter e não ter nada, céu limpo, barulho, trânsito, vida vazia.
Manhã de quinta-feira. Dia esse de fadiga, repetições que causam transtorno, correria, cobranças, chatice. Sou mais um indeciso na fila do pão, esperando impaciente a vez de ser reconhecido, sou apenas mais um… Ao final, percebi não ser nada, e, aos que verdadeiramente nada representam, na verdade são considerados os deuses de um mundo perdido.
Manhã de sexta-feira Dia esse de excessos, pessoas anormais tentando parecerem normais. Todos correm para lá e pra cá, descuidados matam e morrem, beijam e idolatram a face nojenta do deus de papel, dobram-se diante dele, mentem por ele, devoram almas por ele.
Manhã de Sábado. Dia esse extremamente corrido, de um cansaço que não pode ser mensurado. Sou este escravo odierno, buscando ser e ter, mas, percebo novamente, que, não sou, não tenho, nada posso, o dia passa atropeladamente, esmagando aos desavisados, a noite engole o dia como o dia engole a noite, sol e lua, dia e noite que completam na recriação do universo diário.
Manhã de… Chega dessa repetição, dia após dia e hora após hora. A tirania do relógio me consome, devora o meu mundo, enquanto tantas pessoas pelo mundo, cegas, surdas e mudas, levam suas vidas como em uma peça de teatro sendo encenada, sou mais um no teatro da vida…
Dia após dia…
Hora após hora…