O NÍVEL DE CONSCIÊNCIA DE CADA UM
Eu estava aqui, pensando sobre níveis de consciência e empatia, quando lembrei de duas situações engraçadas, que ocorreram comigo há uns bons anos atrás.
Eu ainda era estudante de Letras, e tinha uma amiga cujo o irmão era um rapaz humilde, que sobrevivia vendendo pastéis na rua.
Eu sempre tive a mania um tanto cruel (e ainda tenho) de fazer brincadeiras sarcásticas sobre os erros de português mais grotescos que as pessoas cometem. Pois bem, eu estava batendo um papo com a tal amiga, enquanto o rapaz dos pastéis ouvia atentamente a nossa conversa. Ela me falava sobre uma senhora, que andava muito estressada e tendo uns comportamentos meio "fora da casinha", quando eu, lembrando de um desses erros de português grotescos que ouvi na vida, brinquei: "Com toda a certeza, ela precisa tomar uns CAMPRIMIDOS, pois está com POBLEMA NOS NELVOS". Eu e minha amiga demos boas gargalhadas, enquanto o rapaz me olhava com ar de pena, pois acreditou que eu não sabia falar corretamente.
Perdi o contato com essa amiga e, alguns anos mais tarde, encontrei o rapaz, vendendo seus pastéis na rua. Nesse tempo, eu já havia concluído a faculdade, feito pós-graduação, estava concursada e gozando de boa estabilidade profissional e familiar.
Ele me cumprimentou alegremente e me ofereceu um.pastel. Então, eu indaguei se ele tinha notícias da minha amiga e ele disse que sim, que ela estava muito bem, que havia casado e tinha um menininho. Eu sorri contente e disse: "Fico muito feliz em saber que ela está bem". O rapaz mais uma vez, me olhou com pena e disse em tom consolador: "Não se peocupe, querida. Você também encontrará o seu caminho."
No nível de consciência dele, além de falar errado, eu era mesmo uma perdida, digna da sua pena. Enfim, cada louco com suas loucuras.