A REVELAÇÃO DAS ÁGUAS
Passa o dia e mais uma noite chega. A noite deveria ser aquela em que o descanso do dia fosse garantido, mas por agora, que garantia podemos ter? Olho meus olhos miúdos no espelho das dúvidas e decido juntar a eles os livros que separei para ler assim que terminar de ler A jornada do Escritor.
Os que estão perto de mim são: O banquete; A arte de pedir e Conversando com Mrs. Dalloway. Como estes livros passaram por meus olhos por acaso, por acaso os contemplarei. Afinal, se ler é a relação mais íntima entre desconhecidos, creio que tende a ser a mais segura.
E como foi o dia? O dia, graças a Deus foi estranhamente ótimo. Fiquei feliz de ter escrito o nome de Rosa num papel que colei no livro Textos curtos para mentes grandiosas. Eu devia ter escrito lá dentro que tinha separado este livro para ela, por ela ser mais grandiosa que qualquer livro, mas a gente tem essa mania de esquecer de dizer o mais importante. Talvez por isso nos tornamos escritores. Assim, tudo que fica sem dizer, um dia vai para uma página.
Ainda bem que gosto de escrever. Acho que não sou pessoa de bons ouvidos e nem de bons ombros e às vezes sinto até vontade de chorar por isso. Reconhecer defeitos também é uma arte, mesmo quando o reconhecimento ocorre entre o silêncio das paredes. E aí o ato de escrever me resgata do rio de origem onde parte de mim vem de mother e outra vem de father e não brigam em mim. Pelo contrário! Funcionam como revelação das águas que escorro. Mais claras que turvas, mesmo ao subir morros ou descer curvas.
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