"Mó" alguma coisa que não alagoana, "tá ligado?"
Não compreendo esses alagoanos que, a despeito de toda uma vida em Alagoas, vão ao RJ ou SP, passam alguns dias por lá e voltam falando o carioquês-paulistês. O cara cresceu aqui, no nosso quintal, catando catenga, balançando buguelo, jogando chimbra no terreiro, recolhendo catota do nariz, alimentando-se de macaxeira, todo pivete, todo arengão; um dia vai a sampa ou a Copacabana, passa por lá breve tempo, o suficiente para viajar de trem, passear pela Paulista, frequentar o Leblon. Volta paulista ou carioca da gema.
Penso que todos nós conhecemos um desses ex-alagoanos. Tenho um amigo meu, torcedor do vasco, que recentemente fez essa experiência idiomática. Foi ao Rio de Janeiro, a passeio e em férias, não passou dez dias lá não, voltou carioca "da gema", mas tão da gema que, a quem não o conhecesse de berço, seria difícil tê-lo como alagoano.
Quando retornou da viagem, encontrei-o, e nossa conversa não foi a mesma. Retornou cheio de mugangas, ''irado'', cabuloso, repleto de expressões, para mim, estrangeiras. Agora diz não mais torcer para o "vasco", mas para o "vashco"; comida ''gostosa'' passou a ser ''goxtosa''; "confeito", para ele, é ''bala" e "bala" é "projétxil"; descobriu que "catenga" não existe, mas existe "lagartixcha".
Deixou de falar "iapois", vestiu-se de "exatamente", "tá ligado?". O cara voltou "manero", "descolado", "sinistro", "mó" alguma coisa que não alagoana, "tá ligado?". Voltou "comédia", meio "paia", é verdade. Visitou o Leblon, a Tijuca, o Cristo Redentor; foi ao Morro do Canta Galo, ao do Borel, pulou o da Babilônia; catalogou alguns dizeres locais, botou-os na mala mnêmica —e aqui está, no nosso quintal, difundindo chiados.