CONVERSAS DE TODO DIA, NÃO!


Clara teve oportunidade de falar a verdade, mas perdeu a palavra certa dentro da gavetinha das erradas e reforçou que estava tudo bem quando na verdade só aumentava o poço em que se afundava. Desligara o telefone sem dizer nada ao pai e a conversa ficou por conta do nada de novo.

No mundo monossilábico das relações contemporâneas, uma figurinha teria que dar conta de cada sentimento do universo. As vezes vai até carinha chorando no lugar da carinha rindo e tudo fica no compreendido. Fulano clicou errado. Kkkk.

E Júlio voltara para casa arrotando pancetta e jurava que não tinha passado no happy hour do centro. Ah! Tá, tinha não! E nem com fome estava! Comeu onde? Até as amigas do facebook sabiam. Até quando fingiria não saber? A mãe era da opinião que nem tudo a mulher devia saber. Como não? Fingir é tão pequeno e não cabia em seu número de péssima atriz.

Sabia que o amor escorria pelo ralo. E que até o molho Cica seria melhor que o que andava fazendo. Ele não merecia nada! Sequer uma conversa superficial. E tinha aquela gravidez para esconder. Se pelo menos tivesse chifrado o idiota, poderia torcer para o filho não ser dele, mas nem isso. Faltou coragem para dizer: preciso de uma clínica de aborto com urgência, pai. Com a falta de coragem a conversa ficou nas de todo dia.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 10/07/2020
Reeditado em 10/07/2020
Código do texto: T7001434
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